A mais recente esperança de milhares de garimpeiros de Serra Pelada, no sudeste do Pará, para retomar a exploração de ouro é um trio de investidores japoneses que afirmam querer “ajudar a região”.
Um deles esteve à frente da proposta de trocar o ouro da Amazônia pelo perdão da dívida externa brasileira, nos anos 1980, e diz que planeja criar um Banco Ambiental.
Desde 1992, a mineração está parada, interrompida pelo governo federal.
Akio Miyake, Osamu Sugiyama e Hirosuke Otaki são sócios da Miyabras (Mineração Yamato do Brasil) e visitaram em julho representantes do governo do Pará e da cooperativa dos garimpeiros (Coomigasp), que possui a concessão da área, no município de Curionópolis.
Eles querem mecanizar a exploração do chamado rejeito, partículas de ouro que escaparam do garimpo manual nos anos 1980. Haveria 23 toneladas de minérios, incluindo ouro, em pilhas de terra em volta do antigo garimpo de Serra Pelada.
Esse antigo garimpo era um buraco de 180 metros de profundidade cavado à mão pelos garimpeiros nos anos 1980 e se tornou lendário nas fotos de “formigueiro humano”. O garimpo foi fechado no governo Collor, em 1992, por falta de segurança.
“Existe ainda muito ouro no local e podemos recuperá-lo. Nossa intenção é ajudar a região, que é muito pobre, ajudar os garimpeiros”, disse Miyake, à Folha, por telefone, de Fukoshima, no Japão, sem informar quanto pretende investir no projeto.
Pela proposta, os japoneses ficam com 49% do ouro e outros minérios encontrados. A associação dos mineradores fica com os 51% restantes. Para isso, se tudo der certo, será criada uma SPE (Sociedade de Propósito Específico) nos próximos meses.
Desde 2010, a Coomigasp, que representa cerca de 40 mil garimpeiros, tenta retomar a exploração de ouro em Serra Pelada. Até agora, sem sucesso. Foi no governo Lula que a concessão que pertencia à Vale foi repassada para os garimpeiros.
A cooperativa pretendia retomar a exploração em parceria com a empresa canadense Colossus, mas foi um fiasco. Nesse caso, a exploração seria na fonte primária, numa mina cavada pelo “tatuzão”, o mesmo usado nas obras do metrô de São Paulo.
A mineradora canadense fez o túnel. Pouco antes de iniciar a operação, em 2014, porém, pediu falência. A empresa já tinha investido R$ 450 milhões e precisaria de ainda mais recursos.
“Eles tiveram dificuldade de levantar dinheiro. Um especialista da Bolsa de Toronto fez um relatório mostrando que só tinha um terço do ouro previsto. As ações despencaram”, disse Hélio Rubens, promotor do Ministério Público do Pará.
A cooperativa negocia com credores interessados em terminar o projeto.
A instabilidade da política sindical também atrapalha.
O MPF acusa a antiga diretoria da Coomigasp de desviar cerca de R$ 50 milhões pagos pela empresa canadense, em vez de distribuí-lo aos garimpeiros. O caso está na Justiça Estadual do Pará.
O atual presidente da Coomigasp, Edinaldo Aguiar, disse que finaliza atualmente a minuta do contrato com os japoneses. Até esta semana, ele espera aprovar essa minuta em assembleia.
1976
Ano em que ouro foi descoberto no local
1979
Início da exploração
2010
Tentativa de retomada da produção: a Coomigasp (Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada) assina contrato com mineradora canadense Colossus
2014
Volta à estaca zero: a mineradora canadense entra em falência depois de ter investido cerca de R$ 450 milhões na região
100 mil
Número de mineradores no auge da exploração
30 t
Produção de ouro do fim da década de 1970 a 1992*
Reportagem: Bruno Villar / Folha de São Paulo Fontes: Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e Coomigasp (Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada)