O radialista Nilvan Oliveira inicia sua participação em entrevista exclusiva ao Portal Canaã relembrando seu primeiro contato com o portal, o qual foi através do saudoso repórter Pedro Reis. “O Pedro era meu vizinho na época em que morava em Tucuruí (PA), e era um grande entusiasta da comunicação. Vocês, do Portal Canaã, prestam um serviço muito relevante no que diz respeito à notícia e à comunicação”, afirma.
Nilvan Oliveira se define como “uma pessoa que veio do nada”. Sua carreira como comunicador e educador foi construída através de uma origem humilde, pois desde a infância, morou em quatro favelas distintas, na capital do Ceará. Sua infância e adolescência foram vividas parte no estado nordestino e parte no Pará. Aos 14 anos, teve sua CTPS, a carteira de trabalho, assinada. Ingressou em um programa social do Banco do Brasil, trabalhando e aprendendo na instituição até os 18 anos e, ao longo da adolescência, desenvolveu também suas paixões pela comunicação e pela música. Em 2005, entra definitivamente na comunicação, já comandando o programa “A tribuna do povo”, na Filadélfia FM, rádio comunitária da cidade de Tucuruí, onde permaneceu – juntando dois momentos – por nove anos.
Porém, foi em 2011 que Nilvan deparou com a oportunidade de realizar seu sonho de carreira. Ao ser chamado para integrar a equipe da Liderança FM e da RedeTV em Parauapebas, o comunicador resolveu se mudar de Tucuruí para, enfim, trabalhar em uma grande emissora de rádio.
Comunicação engajada com a transformação social
Nilvan conta que, embora a estrutura da RedeTV em Parauapebas ainda fosse muito rudimentar na época em que começou sua carreira, a rádio já era uma grande potência, com mais de 20 municípios ao alcance da Liderança FM. “Ali, já fazíamos a crítica do cotidiano e cobrávamos. Um caso emblemático foi da rodovia PA-275, na época do então governador Jatene. Nós vivíamos no Sul e Sudeste do Pará, e tínhamos nossas estradas abandonadas. Então, a gente cobrou, e as coisas foram se concretizando”, afirma.
As obras na PA-275 começaram em setembro de 2012, depois de quase oito anos sem nenhum serviço de manutenção na rodovia, que já contava com longos trechos sem asfalto e sinalização, buracos e pontes deterioradas. Devido à crítica de Nilvan e diversos outros comunicadores, o então governador Jatene entregou uma obra de revitalização da PA-275 em 21 de setembro de 2013, restaurando os 66 quilômetros da via que começa no entroncamento da BR-155 e constitui-se no principal acesso à mina de ferro Carajás e outros locais ricos em jazidas de ouro e níquel, como a antiga Serra Pelada. Além disso, a rodovia também interliga os municípios de Eldorado dos Carajás, Curionópolis e Parauapebas, na região sul do Pará.
Da comunicação para a política
Durante sua carreira na Liderança FM, Nilvan passou um ano morando em Parauapebas, mas se deslocando todos os dias para a sede da rádio, em Curionópolis, para apresentar o programa principal. Porém, o radialista voltou para Tucuruí depois de um ano, devido a uma série de dificuldades de adaptação que, segundo ele, “não foram por minha parte, mas de pessoas que conviviam comigo”.
Devido ao seu engajamento com a política por meio da comunicação desde o caso da PA-275, a projetos sociais e à participação ativa na vida social local, Nilvan foi eleito como vereador de Tucuruí em 2016 com o maior número de votos da ocasião. Segundo ele, os 1.923 votos que recebeu lhe deram “a oportunidade de servir à sociedade” como vereador. “Minha campanha foi modesta, sem recursos, mas com muita gente boa. Também apresentamos e implementamos grande parte dos projetos que eram propostas de campanha, como o ‘Programa Primeiro Emprego’, a Indicação e articulação para a implantação do Distrito Industrial, a aplicação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, Indicação para implantação da Sala do Empreendedor e tantos outros. Esses últimos porque eu fui Secretário Executivo da Associação Comercial e Industrial do município e conhecia as demandas das classes empreendedora e trabalhadora. Além disso, atuei também na fiscalização efetiva e mantive presença nas comunidades, por meio do ‘Gabinete Itinerante’”, comenta.
Mesmo com a carreira na política, Nilvan permaneceu trabalhando com comunicação (rádio e TV Floresta) e cursando sua segunda graduação, pois como o radialista costuma dizer, “Deus opera no movimento” – em 2017 foi aprovado, na UFPA-UAB polo Jacundá-PA, para cursar Administração Pública e em 2018 obteve aprovação no concurso público da SEDUC como professor de Língua Portuguesa. Porém, Nilvan afirma que seu mandato foi bastante conturbado devido às questões da política local. “Nosso prefeito na época, Jones William, foi assassinado, o terceiro de uma lista de municípios no Pará. Isso desestabilizou a cidade, criando um caos na política. Como eu tinha muita visibilidade, os ataques eram constantes – uma quadrilha de fake news, à época, foi desbaratada pela polícia. Os criminosos criavam e espalhavam conteúdos inverídicos e difamatórios sobre mim e outros integrantes do Legislativo, do Ministério Público e até do Judiciário, afinal, meu voto e os de outros colegas vereadores retiraram do poder aqueles que, segundo relatório final da CPI instaurada, foram beneficiados – representados na figura do vice que ascendeu ao cargo de prefeito, com a morte do seu antecessor, Jones William. Era necessário elucidar os fatos e dar uma resposta à população. O vice, investigado, meses depois fora reconduzido ao cargo de prefeito pelo TJE. A partir daí, assumi uma postura que contribuísse para a governabilidade do município, porém, sempre fiscalizando a atuação do Executivo. Mesmo assim, o desgaste foi muito grande. A máquina venceu. Não havia um ambiente de produtividade. Sem o mesmo entusiasmo e sofrendo todo tipo de ataque, eu já tinha decidido a não vir mais candidato nem mesmo à reeleição. Mas consegui reunir minha base e apoiamos um candidato a vereador que foi eleito e tornou-se presidente da Câmara em 2021. Fechei meu ciclo no Legislativo de Tucuruí, sempre acreditando na renovação da política”, afirma.
Para Nilvan, o que o impele para a comunicação e a política é o desejo de lutar pela garantia dos direitos fundamentais da população. “Fui morador de favelas de verdade, a ponto de morar próximo de lagoas cujas águas poluídas vinham para dentro dos nossos barracos, construídos de taipa, na grande Fortaleza. De lá, eu contemplava a suntuosidade e a beleza dos grandes edifícios e me perguntava o porquê de tanta desigualdade. Foi daí que veio meu engajamento social no meu cotidiano, o que me motivou a ter uma experiência na vida pública e a construir uma carreira no rádio e na educação, despertando a consciência crítica das pessoas”, revela.
Novos desafios na carreira
Após seu mandato como vereador, Nilvan recebeu um novo convite profissional. O radialista foi convidado pela equipe do Sistema Floresta de Comunicação para trabalhar em Castanhal, conhecida como a “cidade modelo” na região. “Na época, ainda no contexto da pandemia, meu programa ‘Conexão Pará’ era veiculado em duas rádios ao mesmo tempo: Atlântico FM e Pará FM. Além disso, eu também apresentava o “Bora Castanhal” na RBATV. Estava com uma aceitação fantástica, porém as aulas presenciais voltaram e, como sou servidor efetivo da SEDUC, tive que retornar para Tucuruí no final de 2021, pois não havia conseguido transferência”, afirma.
Embora tenha precisado abrir mão da comunicação em Castanhal, Nilvan logo recebeu uma nova oportunidade profissional, para mudar para a Terra Prometida. A convite do diretor geral da Correio Canaã, Jean Carlos, Nilvan retornou para a cidade pela segunda vez, pois já havia conhecido Canaã durante as eleições de 2020, ocasião em que ministrou palestras de Liderança Estratégica e Empreendedorismo.
Um jeito único de fazer jornalismo
Em agosto de 2021, Nilvan assumiu a missão de desenvolver o que ele caracteriza como um “jornalismo imparcial, porém opinativo quando necessário, mas evidentemente respeitando a história, o contexto e a situação de cada pessoa, principalmente no que diz respeito ao contexto da gestão pública”.
“Nós, como jornalistas, sabemos que é necessário preservar a biografia das pessoas, mas a partir do momento em que nós temos a percepção de que as coisas podem ter ajustes para melhor, é aí onde entra a comunicação de combate. Combate no sentido de dizer – eu vou comprar a causa do povo e vou cobrar, para ajudar a resolver! Então, podemos dizer que é um jornalismo propositivo”, afirma Nilvan, em entrevista exclusiva ao Portal Canaã.
Atualmente, Nilvan trabalha como apresentador do Correio Notícias, com recordes de audiência devido ao que o comunicador sempre valorizou durante sua carreira: a proximidade com o ouvinte. “Proximidade mesmo no sentido de visitar, conhecer, comer a galinha caipira, aceitar os convites para ir em festividades, enfim… isso é típico de mim. Eu gosto de fazer amigos e, graças a Deus, eu tenho tido essas portas abertas aqui em Canaã”, afirma.
Em relação ao rádio, Nilvan afirma que “poder ser útil para as pessoas” é um de seus maiores prazeres na vida. “Antigamente, as pessoas tinham a ideia de que quem trabalha em rádio ou televisão é quase uma celebridade. Mas nas cidades do interior, isso não existe. Se alguém pensar que um comunicador é uma celebridade, está totalmente equivocado, porque na verdade, ele é povo.”
Além de manter a proximidade com o ouvinte, Nilvan credita seu sucesso como comunicador à franqueza e honestidade com a qual se comunica, priorizando notícias apuradas, checadas e, sobretudo, verdadeiras. “Quando você leva a verdade na comunicação, as ondas do rádio são mágicas. Elas levam também toda a energia, inegável, que existe dentro de você. E o ouvinte é muito sábio, então ele sente se você é honesto ou usa máscaras, com motivos obscuros. É por isso que, quando o ouvinte confia, ele te recebe em casa como se fosse um irmão”, comenta.
Perspectivas para o futuro
Para 2023, Nilvan acredita que a comunidade de Canaã pode investir e cobrar mais o desenvolvimento econômico sustentável. “Nós temos o caso da cidade de onde eu vim, com gente trabalhadora, mas seus gestores não cuidaram da implementação de uma alternativa, que é o que eu chamo de arranjo produtivo alternativo”, afirma.
De modo geral, Nilvan se preocupa com a finitude dos recursos minerais, os quais são bastante explorados na região, mas podem chegar ao fim inclusive nesta geração. “É preciso diversificar o arranjo produtivo local para além da mineração. Hoje, nós já temos a implantação do Distrito Industrial de Canaã, que era o que eu sonhava para o meu município, mas infelizmente não ocorreu por falta de vontade política. Então, posso dizer que já fico orgulhoso pela história de Canaã.”
“Agora, é olhar para frente administrando esses recursos, ora abundantes, de maneira inteligente e otimizada, fortalecer a agricultura familiar, que foi desmantelada por causa de grandes projetos de mineração. Além disso, é preciso dar possibilidade de se formalizar o pequeno produtor, mas acima de tudo, investir na educação e no Ensino Superior. Precisamos administrar com excelência, estruturar o município e ter planejamento estratégico em problemas crônicos, como ajudar no déficit habitacional e na qualificação de mão de obra e em outras áreas. É olhar para o futuro cuidando do presente com muito carinho”, afirma.