“A lei não é para todos”

Tomei coragem, descumprir acordo que tinha feito ano passado e sentei na poltrona G5. Ao descer do carro, antes mesmo de comprar o ingresso, durante o trajeto pensei por duas vezes em voltar, cancelar a ação que havia proposto em executar. Torci para que, antes que chegasse à bilheteria, encontrasse um amigo, um conhecido, alguém que tivesse visto de relance uma vez que seja na vida, para me tirar do trajeto, me convidar para tomar um chopp, ou debater os últimos acontecimentos políticos. Nada, ninguém apareceu.

Comprei a entrada com o ar desconfiado, com a sensação de culpa de ter me traído. Tudo isso porque quando iniciaram as filmagens de “Polícia Federal – A Lei é Para Todos”, havia prometido que não o assistiria, justamente por retratar a operação Lava jato. Qual o problema nisso? Alguém poderia perguntar. Simples: discordo veemente da forma que a operação Lava Jato ocorre e transcorre. Suas anomalias jurídicas impressionam até os leigos como eu do Direito. São tantas arbitrariedades que pode-se construir perfeitamente um manual do que “não fazer”, especialmente para os calouros, os que estão conhecendo o vasto mundo jurídico.

O referido longa metragem foi lançado em todo território nacional no dia da Independência do Brasil, sete de setembro, feriado. Data simbólica para a proposta do filme e que poderia expandir a venda de ingressos. Mas até o momento o filme é um fracasso de bilheteria. O orçamento para a produção foi milionário, além de ter muitos atores e atrizes globais, o que ajuda na divulgação.

O que eu esperava assistir, encontrar no filme, aconteceu. Assim como na vida real, a abordagem é seletiva. O filme é uma trama maniqueísta, ou seja, um embate entre o bem e o mal, além de se fazer parecer uma peça de propaganda de si mesmo. Há claramente ênfase aos agentes da Polícia Federal. Procuradores, juízes, advogados, todos ficam claramente em segundo plano.

Um problema incontornável do filme é justamente esse, a justaposição com a tragicomédia real que o nocauteia de partida. Enquanto vemos o primeiro capítulo da saga – a fita vai até março de 2016, ou seja, estamos ainda no Governo Dilma e Lula é o vilão do filme que tenta fugir da cadeia se tornando ministro – claramente focado em um só lado, sem abranger nomes de outros partidos. O filme não tinha objetivo – desde a sua concepção – de ir para além da órbita do PT.

Portanto, não houve surpresas nem agradáveis, muito menos desagradáveis. Tudo ocorreu conforme imaginei, o que retrata – de fato – a realidade. Quebrei a promessa de não assistir para ser coerente em abordar o filme, tecer comentários sobre o longa.

Por isso, neste caso, a “Lei não é para todos”, é a arte imitando a realidade e vice versa.

Por.

Henrique Branco

 

 

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