A Amazônia está sendo consumida pelo fogo neste início de 2024. Somente em fevereiro, foram registrados 2.961 focos de calor, a maior cifra em 25 anos de medições do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Os números, computados até o dia 28 de fevereiro, data da última atualização, são 3,7 vezes maiores do que a média para o mês – 807 focos – e 303% maiores do que o mesmo período de 2023, quando foram registrados 734 focos.
O aumento no número de queimadas foi puxado pelo estado de Roraima, que vive atualmente sua estação seca, ao contrário do resto do bioma, cuja estação seca tem início em junho, com pico em setembro.
Neste estado, até o dia 28 foram computados 2002 focos, 68% do total registrado em todo bioma no período.
Segundo Erika Berenguer, pesquisadora das Universidades de Oxford e Lancaster, no Reino Unido, e uma das maiores referências sobre foco em florestas tropicais do mundo, o aumento dos números pode ser explicado por dois fatores: fenômeno El Niño e características da Amazônia no estado.
“Roraima é a área com mais savana na Amazônia e existe uma grande pressão da soja nessas áreas, chamadas de lavrado. Faz sentido também falar em estação seca, que em Roraima acontece no início do ano, e em El Niño, porque em 2016, quando tivemos reflexos de um El Ninõ forte, os números também foram altos”, disse.
De acordo com Haron Xaud, pesquisador da Embrapa e professor de pós-graduação na Universidade Federal de Roraima (UFRR), grandes áreas de savana no estado queimaram em janeiro, quando foram computados 604 focos. O problema, segundo ele, é que o fogo agora atinge áreas protegidas.
“Em fevereiro grandes áreas de floresta, incluindo Unidades de Conservação e Terras Indígenas, começaram a queimar. Verificamos que a grande maioria das queimadas são ilegais e de origem antrópica”,diz.
Nas áreas de vegetação tipica de Cerrado dentro da Amazônia Legal, a porção que deve ser protegida em propriedades rurais é de 35%, ao contrário dos 80% das áreas florestais. Por isso, as autorizações de queimadas, emitidas pelos governos estaduais, contribuem, direta e indiretamente, para o cenário atual.
Em Roraima, o chamado ciclo de queimadas – período em que as queimadas autorizadas podem acontecer – iria até 9 de março, mas em 21 de fevereiro a Fundação do Meio Ambiente e Meios Hídricos (Femarh) suspendeu a liberação de licenças por tempo indeterminado.
Mesmo assim, o Greenpeace atribui ao governo estadual a responsabilidade do aumento nos focos. Segundo a organização, o poder local deveria ter cancelado as autorizações muito antes.
“É inaceitável que o governo estadual tenha concedido licenças para queimadas nessa situação, elevando os focos de calor na região, colocando em risco o meio ambiente e a saúde da população”, disse Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil.
Fonte: Eco.org. br