Em São João do Araguaia crianças e grávida sem-terra são torturados, diz CPT

Cerca de dez famílias de trabalhadores rurais foram torturadas por pistoleiros encapuzados e fortemente armados em São João do Araguaia, sudeste do Pará, informou a Comissão Pastoral da Terra (CPT) nesta segunda-feira (7). De acordo com a instituição, as vítimas estavam acampadas às margens do rio Araguaia e entre elas estavam onze crianças, entre 3 meses e 10 anos, e uma mulher grávida. O caso foi registrado na Polícia Civil e apresentado à promotoria agrária de Marabá. As investigações são presididas pela equipe de policiais civis da Delegacia de Conflitos Agrários (DECA).

De acordo com a Polícia Civil, o grupo de acampados era formado por cerca de 20 pessoas que tiveram de sair de um acampamento que estava instalado dentro da fazenda Esperantina, já que a propriedade foi reintegrada por determinação da Justiça. Após serem despejados do local, eles se instalaram às margens do rio Araguaia na zona rural.

Ainda de acordo com a polícia, por volta de 22h da quinta-feira (3), um grupo de 8 a 12 homens armados com armas de fogo e armas brancas chegou ao acampamento em dois veículos, sendo, um deles, uma picape. O grupo armado teria chegado ao local atirando para cima e teria obrigado as pessoas a desmontar o acampamento, levando as pessoas, entre homens, mulheres e crianças, para a estrada. O acampamento onde estavam foi queimado.

Segundo a CPT, os pistoleitos portavam escopetas, pistolas e revólveres e, durante quase uma hora, praticaram uma sessão de torturas. Os criminosos, de acordo com a CPT, prestam serviços a fazendeiros.

“Os adultos foram espancados a golpes de paus, facões e coronhadas. As marcas ficaram espalhadas pelos corpos dos trabalhadores. Eles dispararam armas próximo ao ouvido de duas crianças gêmeas de 3 meses de idade. Uma das mães que estava grávida foi pisoteada, teve sangramento e pode ter sido vítima de aborto”, diz nota da CPT.

Ainda de acordo com os relatos, os pistoleiros colocaram fogo nos barracos, destruindo pertences e documentos. Dois trabalhadores que chegaram no momento do crime retornaram correndo sob tiros disparados pelo grupo armado.

As vítimas, segundo a CPT, foram obrigadas a subir nas duas caminhonetes, com a roupa do corpo, e foram abandonadas na Vila Santana, na rodovia Transamazônica, a cerca de 30 km do local do acampamento.

O grupo de camponeses foi despejado em janeiro da Fazenda Esperantina, propriedade da siderúrgica Sidenorte Marabá, após ordem do juiz da Vara Agrária de Marabá. A CPT informou que, mesmo longe dos limites da propriedade, pistoleiros não deixaram de perseguir as famílias e ameaçá-los para que saiam do Pará. O G1 solicitou posicionamento da siderúrgica e aguarda retorno.

Para o advogado da CPT, José Batista, nas reintegrações não têm sido rigosamente observadas as questões da proteção às crianças, idosos, gestantes. “Após serem despejadas, essas pessoas ficam em extrema situação de vulnerabilidade, vivendo em local inadequado, de total abandono e isolamento. Isso os deixa mais vulneráveis a grupos violentos e ao desrespeito aos direitos humanos”, alertou.

“Tem sido recorrente na região a formação de milícias armadas, patrocinadas e organizadas pelos fazendeiros para prática de despejos ilegais com ações de extrema violência. E a Polícia não tem respondido a altura para identificar os responsáveis pela execução e quem financia esse tipo de crime”, disse o advogado.

O caso foi registrado na sexta (4) na Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (Deca), em Marabá. As vítimas realizaram exame de corpo de delito.

Fonte: G1

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