Último fazendeiro no Projeto S11D critica poluição

“Eles chegaram comprando as terras dos fazendeiros. O valor era razoável, mas eu não queria ser o primeiro a vender. E eles não queriam indenizar o bananal. Então não teve  negócio”, resume Milton Ribeiro de Oliveira.

Foi assim que o proprietário da fazenda Sossego, conhecido como Milton do Bananal, tornou – se o último fazendeiro instalado do lado de dentro da portaria do S11D, maior projeto da história da Vale, em Canaã dos Carajás.

Desde 2008, a mineradora Vale comprou, pouco a pouco, as terras de outros fazendeiros da região e mesmo uma vila rural inteira, de 90 famílias, chamada Mozartinópolis. Todos saíram da vizinhança. Todos menos Milton.

Em uma fazenda que fica localizada a 1.700 metros da sala de controle do S11D, vivem 20 pessoas, incluindo empregados e suas famílias. Além de 140 hectares de bananal, há 50 galinhas, 30 porcos e 2.000 “boizinhos”.

“Era melhor hoje vender a fazenda do que ficar. Eu tinha vizinhos, para cima, para baixo. Então, dividia muitas coisas. Agora não. As onças ficaram só para mim. O prejuízo é grande”, diz Milton.

Ficar com as onças seria muito bom provérbio amazônico, mas não é. Pintadas, pretas e vermelhas, como ele as classifica, estão atacando bezerros. Isso sempre ocorreu, mas antes o prejuízo era “compartilhado” com vizinhos.

“ A vaca depende do bezerro para o leite, mas as onças estão pegando eles. A gente não vê a onça, só aparece o bezerro morto. O que se pode fazer…é isso que tinha que saber, né? Estamos deixando de produzir.”

Origem

Foi o relato sobre a terra produtiva que levou o casal Oliveira pais de Milton ao estado do Pará, em 1982.

Naturais do Tocantins, eles compraram as terras e abriram a mata a facão e fogo. Nas décadas seguintes, o que a família fez foi plantar e plantar.

A produção de banana era vendida em Belém. Com o tempo, o bananal ser tornou um dos mais produtivos do estado e apelido familiar.

Hoje casado e com filhos, Milton queixa – se de seguranças contratados pela Vale que fecham com cones a rodovia que leva ao S11D e á fazenda Sossego. É uma portaria improvisada.

Quando a Folha foi visitar Milton, o carro alugado pela reportagem foi parado. O segurança anotou nomes da equipe e passou por rádio informações do modelo, cor e placa do veiculo. Só depois foi autorizado a passagem.

Milton diz que seus visitantes já tiveram carro revisado e foram esmo barrados. “Não sei se eles podem fazer isso porque é o acesso também á fazenda. Eu estou deixando. Um dia vou tomar uma providência.”

Mas esse é um dos seus menores problemas. Ele acha que o igarapé Sossego, que corta sua propriedade, foi contaminado pelo projeto de mineração da Vale. Segundo diz, a água ficou turva e houve morte de peixes.

“Quem se banha no rio sai reclamando, pinicando. Se lavar a roupa, não dá para vestir, também pinica. Quando chove, o rio fica turvo. Sempre foi assim mais agora demora para limpar e depois uma lama no fundo”, diz.

Procurada, a minerador a disse  que “não há impedimento para qualquer morador acessar parte de sua propriedade por dentro das áreas da Vale” e que “procedimentos de segurança fazem parte de qualquer empreendimento deste porte”.

Sobre a compra da fazenda Sossego disse que adquiriu as propriedades necessárias para o projeto de compensações ambientais e sociais durante o processo de licenciamento.

Já a notificação sobre a poluição do rio resultou num “ Plano de Proteção do Igarapé Sossego”. “Os valores medidos no monitoramento da qualidade dos cursos d´água (…) estão de acordo com os parâmetros estabelecidos na legislação”, diz a Vale.

Reportagem: Bruno Villas da Folha de S. Paulo.

 

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