Amazônia e o estereótipo “selvagem”

Coluna do Branco

Além de ministrar a disciplina de Geografia, por formação em nível de especialização, sou professor de Estudos Amazônicos, tendo como maior desafio desmistificar o que se pensa ou se propaga em relação à região. Historicamente a Amazônia sempre foi vista por diversos olhares. Desde os mais lúdicos, fantasiosos, até os mais realistas, positivamente ou negativamente.

O meu papel em sala de aula é justamente desmistificar o que se pensa em relação ao cotidiano da região, que mesmo em pleno século XXI, muitos ainda acreditam que estamos aqui em meio ao Brasil colonial, longe do progresso ou de qualquer rascunho de modernidade, como se fossemos outra civilização que desembarcou no século corrente sem lastro na passagem do tempo. A ideia que aqui se anda em meio a jacarés, cobras e outros animais é, infelizmente, uma realidade.

Mas toda essa vertente é alimentada por vários veículos de comunicação, especialmente os do eixo sul-sudeste, que ainda “vendem” a região amazônica como um capítulo a parte do gênese, uma parte do Brasil que ainda reúne o “selvagem” e o metafísico. Exemplo disso são as diversas reportagens, matérias que são realizadas aqui e que fomentam o estereótipo que já foi aqui relatado. Na maioria das matérias que são produzidas em território nortista, focam exclusivamente no natural, na floresta, o estilo de vida ribeirinha. Não mostram (ou quando o fazem é de maneira superficial) que a Amazônia é a floresta mais urbanizada no mundo. Fora da supremacia verde, temos grandes metrópoles como Belém e Manaus e dezenas de cidades de médio porte. Segundo dados do IBGE, a região conta hoje com uma população de 30 milhões de pessoas. Portanto, já passou da hora que quebrar a desmitificação criada em relação à Amazônia.

Infelizmente, mais um exemplo negativo foi dado na última sexta-feira (29) – e que continua reforçando o que se pensa e acha sobre o norte do Brasil – pelo programa Globo Repórter, da Rede Globo. Na ocasião, a emissora fez homenagem aos 400 anos de Belém, a capital do Pará. A questão é que a referida metrópole completou o seu quarto centenário em janeiro e não na virada de abril para maio. Por que só agora, meses depois foi mostrado? Belém por sua história e importância para o processo de colonização da região, não merecia que os seus 400 anos fossem mostrados ao Brasil?

Além desse questionamento, algo que revoltou e que foi muito propagado nas redes sociais foi que o programa sobre Belém só seria mostrado para o estado do Pará. O resto do Brasil assistiria especial sobre Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, no Oriente Médio. Por que tal postura? Por que não valorizar, mostrar para todo o Brasil a região amazônica? Até quando continuaremos a propagar uma Amazônia que não existe, é fictícia, e continua sustentada por distorções da realidade?

Por isso, a música “Belém, Pará, Brasil” é o mais fiel retrato da região. “… Por que ninguém nos leva a sério, só o nosso minério?” até quando?

 

Prof. Henrique BRANCO – Licenciado em geografia com pós-graduação a nível de especialização em Geografia da Amazônia – Sociedade e gestão de recursos naturais. Professor que atua nas redes de ensino público e particular de Parauapebas. Assina diariamente o “Blog do Branco”www.henriquembranco.blogspot.com além de jornal e sites da referida cidade.

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