O antipetismo virou patologia social

Foto: Henrique Branco

Coluna do Branco

Em meu último artigo de 2015 para o Portal Canaã, poderia enviar mensagem natalina ou um texto desejando aos leitores ano novo de muitas realizações, o que seria perfeitamente aceitável. Poderia fazer um balanço do ano, uma retrospectiva, conforme estou postando em meu blog. Saindo da lógica costumeira do período de fim de ano, vou reapresentar um artigo que escrevi em março de 2015 em meu blog e que teve bastante visibilidade a nível nacional. Tive essa iniciativa depois do fato ocorrido com Chico Buarque, nas ruas do bairro do Leblon, na cidade do Rio de Janeiro. Na ocasião, Chico foi provocado por um grupo de jovens que ainda o xingaram, simplesmente pelo artista ter uma visão político-ideológico diferente dos defendidos pela turma.

O incidente relatado é mais um de diversos que vem sistematicamente ocorrendo pelo Brasil. A intolerância cresce de forma assustadora. Ficou perigoso defender ou apresentar preferência política. Por isso, deixo o alerta. O texto abaixo faz referência a um partido político e ao governo dirigido por ele, mas serve para qualquer legenda partidária ou grupo ideológico. Desde já agradeço aos que acompanham a minha coluna, leem os meus textos, minhas reflexões e provocações. Desejo a todos um 2016 de muito sucesso.

Deixo claro neste texto que não defendo corruptores, ou seja, independentemente de partido, quem desvia dinheiro público deve pagar por isso, inclusive se for do PT. A proposta deste texto é analisar o cenário político e os movimentos sociais, dentre eles o aumento do antipetismo. Por que o antipetismo aumentou tanto? Ele realmente é real? Quem o sustenta? Por que cresceu? Essas indagações irão nortear este texto. Vamos ao debate.

Não é de hoje que sempre quis escrever criticamente sobre o título deste texto. Começava a redigir, lia, não achava apropriado e sempre apagava. Ao terminar pensava que não haveria a necessidade de associar críticas, oposição e discordâncias com doenças ou com distúrbios de comportamento. Pensava que deveria – como formador de opinião – garantir o direito do contraditório e da crítica.

Mas depois dos últimos acontecimentos que a oposição no Brasil vem propondo e tendo apoio de grande parte da mídia como, por exemplo, a intervenção militar, o chamado “panelaço”, quando a elite de várias cidades brasileiras, especialmente as mais ricas, se colocaram em suas sacadas para bateram panelas. Qual o efeito disso?

O ato por si só não muda muito, até porque foram pequenos nichos que promoveram essa manifestação contra os pronunciamentos da presidenta Dilma. Mas vale para analisar o comportamento e o nível que chegou ou ainda chegará o antipetismo no Brasil.

Desde quando o PT chegou ao poder em 2003 que a crítica e seus opositores o acompanham. A mídia sempre atacou o partido diuturnamente, mas a base política-eleitoral da referida legenda sempre se manteve, com oscilações, mas a maioria sempre esteve com o PT. Lula por ter chegado à presidência sendo um torneiro-mecânico de formação se acostumou as mais variadas baixarias com o seu nome. O tentam matar o tempo todo.

Com Dilma não é diferente. A ofendem de todos os jeitos com vocabulário bem extenso e com baixarias escabrosas. E de quem parte isso? Dos que, teoricamente, mais estiveram acesso ao estudo, à formação escolar. A nossa elite nunca aceitou que um partido de esquerda, com um presidente sem diploma universitário conduzissem o país e fizessem grande avanço social, tirando milhões da extrema pobreza. A ONU reconhece isso, mas milhares de brasileiros não.

Nos primeiros anos do PT no poder o antipetismo era restrito. Existia uma oposição sem rumo, e os opositores ficavam nas primeiras camadas sociais, os mais ricos gritavam sozinhos. A base petista com a esmagadora maioria da população abafava qualquer movimento. Não havia movimento social ou apoio popular. Quando a mídia percebeu isso, aumentou os seus ataques e se utilizou de parcerias com Judiciário para fazer valer a sua influência na população com menos informação e discernimento. Alguns nomes do PT morderam a isca e caíram. Assim o antipetismo foi subindo.

Aumentou assustadoramente com o governo Dilma. Talvez, a imagem e história de Lula blindassem o partido e o governo de maiores manifestações. Com Dilma é diferente. O seu governo claramente não manteve o mesmo nível de qualidade do seu antecessor. Temos que reconhecer que o governo Dilma “escorregou” na condução da economia e hoje, já no segundo mandato, podemos estar caminhando para uma crise econômica e as medidas recém-adotadas não surtirem o efeito esperado.

Então por que o antipetismo é patológico? Costumo dizer que muitos que se colocam contra o PT nem sabem o porquê tomaram tal posição. Muitos nem se quer sabem defender a sua posição e não possuem argumentos para manter a sua crítica ao partido. São contra porque são; simples assim.

Quando converso com algumas pessoas que se colocam na posição antipetista, sempre quando questionadas, soltam frases prontas: “porque o PT é corrupto”. Oras, será que pensam que só o referido partido é assim? Ou que lidera no segmento negativo? Ou a corrupção começou com o PT?

Muitos que se intitulam antipetistas são meros reprodutores de frases e comportamentos. Não se dão ao trabalho de analisar o contexto ou as informações que recebem. No caso da corrupção, por exemplo, no site Transparência Brasil, o PT aparece em 9º em relação aos parlamentares que respondem a processos. O PSDB (blindado pela mídia) é o terceiro, com mais do que o dobro dos petistas. Mas a mídia faz você pensar o contrário.

O que é preocupante é o antipetismo avançar sobre as camadas mais populares a base do PT e que sustenta o partido no Palácio do Planalto. Essa questão abordei em outro post: “O PT sofre dos próprios avanços e conquistas”. O PT mudou a vida de milhões de brasileiros para melhor. A questão hoje é que esses milhões que ascenderam socialmente, querem mais, não se contentam com o que tem hoje e já esqueceram quem os garantiu esses avanços. Por isso o PT precisa avançar, propor ações diferentes, avançar sobre outras camadas.

O antipetismo é patológico por sua caracterização social. Mas se não for combatido, se tornará algo latente, movimento forte e com base. Enquanto isso, como sempre, o Palácio do Planalto assiste passivamente os movimentos. Ou se combate a patologia ou a doença entra em estado terminal.

 

Prof. Henrique BRANCO – Licenciado em geografia com pós-graduação a nível de especialização em Geografia da Amazônia – Sociedade e gestão de recursos naturais. Professor que atua nas redes de ensino público e particular de Parauapebas. Assina diariamente o “Blog do Branco”www.henriquembranco.blogspot.com além de jornal e sites da referida cidade.

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