Policiais recusam propina e prendem jovem com equipamentos para roubos de bancos

Na manhã desta quinta-feira, 3, policiais rodoviários recusaram receber a quantia de R$50 mil de um jovem que viajava pela Alça Viária. O homem portava nas bagagens, furadeiras, uma máquina e um aparelho bloqueador de alarmes e sinais, que de acordo com a Polícia Rodoviária Estadual (PRE) são objetos utilizados para arrombar agências bancárias e caixas eletrônicos.

Identificado como Riquelme Eduardo da Costa, 18, o homem afirmou aos policiais que desembarcaria na BR-316 e seguiria até o município de Castanhal para entregar os objetos, mas quando percebeu que ficaria preso, ofereceu R$50 mil ao sargento João Amâncio da PRE na tentativa de continuar a viagem. Riquelme informou que em poucos minutos o dinheiro chegaria até os policiais, mas o grupo recusou o pagamento da propina e o prendeu em flagrante.

O policial tem a consciência de que fez o correto, ao impedir que muitos crimes pudessem acontecer com a utilização do material que foi apreendido. “A gente tem dificuldades, claro, mas na nossa profissão não podemos nos deixar levar por ofertas erradas; nossa doutrina não é essa. Os ensinamentos da Polícia nos dizem para trabalhar de forma leal ao comando da sociedade e para servi-la, e é isso que nos leva ao bem, pois precisamos dar exemplo para a nossa família, amigos, sociedade e para a corporação como um todo”, complementou o sargento.

O major Renato Cunha, da PRE, contou como aconteceu a abordagem. “Realizamos diversas operações ao longo das estradas do Estado e hoje, em operação estática no quilômetro 35 da PA-483, a guarnição abordou um ônibus que vinha do Acará para Belém. Lá, foram encontrados alguns equipamentos, incluindo esse bloqueador que desliga alarmes, computadores, televisões e até sinal de celular. Em seguida, chegaram ao dono das malas e iniciaram o diálogo que terminou com a prisão”, explicou.

Os policiais trouxeram o jovem para a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) em Belém, que agora vai investigar o caso. “Ele afirmou que apenas traria o equipamento para outra pessoa, alegando que seria empregado na construção civil, mas sabemos que não se justifica um bloqueador de sinais em uma construção. O fato de ele oferecer dinheiro aos policiais pesa contra ele, configurando que ele queria se livrar da prisão. Sabemos que esse aparelho bloqueador custa mais de R$100 mil, o que demonstra que temos um bando especializado agindo por aqui. Agora vamos continuar as investigações para chegar até esse bando. Já o preso vai responder inicialmente pelo crime de corrupção ativa e estamos buscando por outras informações dele para saber, por exemplo, se existem mandados de prisão em seu nome”, detalhou o delegado Tiago Belieny, da DRCO, que ouviu o depoimento do acusado.

Honestidade – A ação dos policiais chegou ao conhecimento do governador do Estado, Simão Jatene, enquanto estava em uma reunião com gestores da área de segurança. Jatene fez questão de ligar diretamente para o sargento Amâncio e parabenizou a equipe pela atitude, que representa bem o esforço diário de cada agente de segurança paraense nas ruas.

Foram encontrados alguns equipamentos, incluindo esse bloqueador que desliga alarmes, computadores, televisões e até sinal de celular.

“Estou ligando por conta do gesto que vocês tiveram ainda há pouco. E tenho certeza que estou fazendo isso não apenas em nome dos paraenses. Eu acho que esse é um gesto que os brasileiros, particularmente nesse momento, gostariam de poder fazer com o senhor e com sua equipe”, disse Jatene, ao telefone. “O gesto dos senhores, nesses tempos em que esse país vive, é simbólico, é emblemático. É um gesto que precisa ser reconhecido, divulgado, até para que a nossa juventude perceba que é possível fazer as coisas de forma correta. Então eu quero dizer que eu fico honrado, não apenas como governador, mas como cidadão”, complementou.

O governador destacou ainda que era uma honra “poder dizer isso a um policial, um guerreiro e reconhecer, para que a sociedade paraense perceba que ela tem uma Polícia Militar da melhor qualidade. Lamentavelmente, existem maus policiais, como existem maus professores, como existem maus políticos, como existem maus em todas as posições, mas que a grande maioria da polícia desse Estado é formada por gente de bem e do bem, que merece o respeito e o carinho do povo do Pará”, disse Jatene durante a ligação.

“Transmita isso aos demais companheiros da sua equipe. Eu me sinto muito honrado em estar falando com os senhores. Muito obrigado pelo o que vocês fizeram. Não é só o fato da apreensão. É o fato de não se submeterem a um tipo de procedimento que só faz envergonhar a todos. Porque muita gente fala da corrupção, mas não raramente pratica pequenas corrupções, pratica corrupções que terminam se generalizando, migrando e contribuindo para que se tenha esse sentimento de falta de seriedade no trato das coisas. Sou muito grato”, finalizou Simão Jatene.

O comandante geral da Polícia Militar do Pará, coronel Hilton Benigno, também já comunicou ao governador que indicará toda a equipe para receber condecorações da PM em reconhecimento pelo trabalho pela ação realizada.

Por Heloá Canali

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