Jogadora que cresceu em Conceição do Araguaia afirma que não leva vantagem por ter nascido homem

Jogadora transgênero do Bauru afirma que não leva vantagem por ter nascido homem. Adversárias e grandes nomes do esporte comentam a situação

Quando entra em quadra, Tiffany já sabe que todos os olhos estão voltados para ela. Sua participação faz história e quebra tabus. Defendendo o time de Bauru, ela estreou.

Tiffany Pereira de Abreu, 33 anos, nasceu Rodrigo. Cresceu na pequena cidade de Conceição do Araguaia, no Pará, de apenas 50 mil habitantes. Ainda com o primeiro nome de registro, defendeu o Juiz de Fora e Foz do Iguaçu na Superliga masculina b. Há cinco anos, sentindo-se inadequada em um corpo que parecia não ser o seu, tomou a decisão que mudaria a sua vida por completo. Saiu do país, mudou de sexo, só não imaginou que voltaria a jogar vôlei.

No dia 10 de dezembro de 2017, no final do primeiro set contra o São Caetano e se tornou a primeira atleta transexual a atuar na Superliga feminina, a elite do vôlei brasileiro. Mas, a polêmica tomou as redes sociais: Tiffany leva vantagem em relação às suas companheiras de quadra? Em cinco jogos, foram 115 pontos. Média de 23 por partida, um desempenho superior ao da oposta Tandara, do Osasco e da seleção brasileira, maior pontuadora da competição com média de 20 pontos.

– Sinceramente, se eu tivesse a força que eu tinha antes, tivesse o voleibol que eu tinha antes, realmente não teria coragem de estar aqui. Eu ia machucar uma pessoa. Mas, hoje eu posso atacar o forte que for que eu não machuco ninguém do outro lado. Porque eu tenho uma força de mulher forte. Nada mais que isso. O resto meu é só talento que Deus me deu e ninguém pode tirar – se defende Tiffany.

Segundo o comitê olímpico internacional, não é necessário fazer a cirurgia de mudança de sexo para disputar competições femininas. Basta ter um nível de testosterona abaixo de 10 nanomols por litro de sangue. Tiffany tem apenas 0,2 nanomol. É uma atleta testada regularmente e está dentro das regras.

Tiffany afirma que tem força de uma mulher forte (Foto: Marcelo Ferrazoli / Vôlei Bauru)

A divergência entre especialistas em fisiologia do esporte e endocrinologia é sobre os ganhos de Tiffany antes do tratamento hormonal. E se isso daria a ela uma vantagem em relação às outras atletas. De acordo com os médicos, ao se submeter ao tratamento Tiffany comprovadamente perdeu força, velocidade e resistência. Por outro lado, a transição de Tiffany se deu quando ela completou 30 anos. Coração, pulmões, parte óssea e musculatura foram formados com produção hormonal masculina.

– Como a ação da testosterona ela acontece no menino ao longo de toda a vida, desde a fase embrionária, dentro da mãe, quanto mais tarde se fizer o tratamento hormonal pra mudança de sexo, mais vantagens esse atleta vai apresentar. por que? a ação da testosterona ela vai fazer com que tenha todas essas diferentes do homem. como aumento da massa muscular, aumento do número de células vermelhas do sangue, aumento do coração. e consequentemente quanto mais tarde se fizer a cirurgia, o legado dessa testosterona vai ser maior pra atleta – explica a Dra. Karina Hatano.

As adversárias e outros grandes nomes do esporte também falaram sobre o assunto. Oposta do Osasco e da seleção brasileira, Tandara não é contra a participação de Tifanny na superliga.

– É de encher os olhos sim, com certeza, pela atitude, pelo trabalho, mas deixo na mão dos especialistas.

Aline, central do Brasília, e Malu, oposta do mesmo time, enfrentaram Tifanny na última semana, onde ela marcou 24 pontos na vitória por três sets a um de bauru.

– O ataque dela é forte sim, é pesado, mas a Tandara também ataca pesado, ataca forte. Ela também erra, também larga. Ela se sobressai? Sobressai sim. Mas eu não achei tudo isso que todo mundo fala. Ela recebe noventa bolas por jogo, é normal ela fazer trinta pontos. Vamos ver os confrontos contra os times grandes, contra o Rio, contra o Praia. Porque daqui a pouco esses times vão começar também a parar o ataque dela – afirmou Aline.

– Eu realmente acho que ela é uma atacante muito forte que se sobressai em alguns momentos. Não sei se tem a ver porque foi homem ou não foi, não sei. Até nem gosto de falar muito porque quem liberou é que tem que segurar esse rojão aí – destacou Malu.

Paulo de Tarso, técnico do Pinheiros também se manifestou sobre o assunto.

– O que a gente quer é que seja analisado porque existe uma diferença. Só isso. Ninguém é contra, ninguém é transfóbico, ninguém é homofóbico, ninguém é absolutamente nada disso. Pelo contrário, eu sou solidário a todo o trabalho que ela teve pra chegar ao lugar que ela conquistou.

Paulo Coco, técnico do Praia Clube, líder da Superliga feminina, entende que a regulamentação de atletas transexuais precisa ser revista.

– A minha opinião é que os órgãos que regulamentam o esporte, no caso o Comitê Olímpico Internacional e a Federação Internacional, acredito que devam rever, discutir mais essa normatização. Pelo que eu tenho acompanhado, informações de especialistas na área médica esportiva, fisiologistas, não é simplesmente o fato do controle hormonal, em cima de taxas de testosterona, que colocaria um transexual em condições de igualdade de mulheres. Com informações da Globo.

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