OPINIÃO: Estava à toa na vida e meu amor me chamou pra ver a carreata do Bozo passar

Centenas viraram milhares, depois milhões, depois tomaram o país pra si. E a gente assistiu a tudo embasbacado, paralisado, sem saber o que fazer… Vendo a carreata passar

Está consumado. Liquidado. Resolvido. Acabado. Consolidado o mito.

Há quase dois anos escrevi que o fenômeno messiânico em torno do Jair Messias precisava acabar. Não acabou, não esfriou, não perdeu força; pelo contrário: o projeto fascista ganhou força e apoio das mais diversas camadas sociais. O fenômeno tomou as ruas, as praças, as linhas das mãos, os pés de seguidores que não se cansavam das marchas.

Admitam, eles foram melhores e mais incisivos que nós.

A gente se acostumou a ganhar todas. Minha geração se acostumou à vitória certa, às farras homéricas por ver nossos ideais serem os escolhidos pela esmagadora maioria. A gente entendeu que sempre ganharia, não importava o enredo. E a gente errou.

E está pagando o erro, sentindo na pele a derrota para o ridículo, para o tosco, para o intelectualmente inexpressivo. A gente se acomodou, se acovardou, dormiu no ponto e não percebeu que havia um fenômeno vitorioso tomando forma, ganhando as ruas e os corações dos nossos antigos companheiros de luta.

Nós perdemos, em parte por culpa nossa. Nossa insuficiência em escolher novos líderes, olhar adiante, admitir erros, buscar alternativas faz com que a gente tenha agora de se ajoelhar perante a falsos mitos e aceitar certas ideologias. Erramos também, amigos, companheiros de luta, e entender isso é fundamental para que a ficha caia desde já. A minha já caiu e decidi que ser resistência, oposição é o primeiro passo para evitar que uma barbárie aconteça. Bolsonaro já avisou que sua primeira ação é lutar para que o “cidadão de bem” tenha acesso às armas. Nossa primeira batalha será travada contra essa medida.

Estava à toa na vida, como tantos, e meu amor me chamou pra ver a carreata do Bozo passar. E quando vi, já era tarde demais. Ele já havia nos atropelado, nos extinguido. Já não tínhamos chance há muito tempo.

A gente assistiu a tudo embasbacado, achando graça, brigando bestamente em territórios hostis, em vez de convencer milhões de indecisos. Dava pra gente ter levado essa se tivesse caído na real antes.
A banda passou, como diria Chico, a carreata passou, o dia não veio, não veio a utopia da virada, não veio o cearense, nem Drummond… Veio a resistência nordestina, mas não deu pra salvar. Não dessa vez.

Lembra das nossas risadas com os outdoors? Alguém lembra? O que a gente fez? Nada. Por que a gente deixou pra última hora? Gente, por quê? O lamento já não adianta, mas é bom que a gente faça essa reflexão. Em que momento a gente deixou que os nossos piores pesadelos tomassem forma e vencessem eleições? Ah, que tristeza.

A No entanto, o mesmo Chico da “Banda”, explicou que “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”. Apesar de você, inda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria/ E eu vou morrer de rir que esse dia há vir antes do que você pensa.
E agora? O que nos resta? O luto?
Sim, o luto. Mas como verbo! Eu luto!
E você?

Por. Kleysykennyson

 

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