A onda antipetista transformou boa parte do Brasil num cúmplice imoral do ódio e do despreparo

Reprodução/Globo

Um país que elegeu Fernando Collor como salvador da pátria já devia ter aprendido com os próprios erros. Passados mais de 20 anos da inglória aventura do ‘caçador de marajás’ no Palácio do Planalto, o Brasil voltou a acreditar em terra plana, em discos voadores, urnas fraudadas e príncipes que vêm a galope para libertar os oprimidos da escuridão. Um país poderoso, influente, cobiçado, vivo, pulsante, jovem e democrático voltou a acreditar em deuses míticos e salvadores da pátria. O fenômeno Jair Bolsonaro trouxe à tona o que há de mais execrável no brasileiro e isso, pelo fato de a história já recontar certos aspectos da humanidade, deveria ser um alerta para coisas maiores; no entanto, há pessoas torcendo para que, de fato, coisas maiores (e piores) aconteçam com o Brasil.

Muito disso se explica pelo sentimento antipetista. Ver Lula livre e comandando um país assusta muito mais do que a franca ascensão do despreparo e da canalhice de um ser odiento que representa o que há de pior na política: o oportunismo, a mentira, o sentimento fascista, o aceno claro a ditaduras de direita, o ódio às minorias, o desdém com refugiados.

O antipetismo é um sentimento que se justifica. Apesar de todas as conquistas sociais do Partido dos Trabalhadores e do excepcional momento vivido pelo Brasil entre os anos de 2003 e 2013, o legado de corrupção e a traição às origens do partido são indefensáveis. Em 2018, como uma mostra clara da sede por poder, Lula, já preso, não largou o osso e montou uma chapa de araque (apesar de brilhante, bem melhor do que o PT merecia) para disputar eleições.

A entrada de Haddad e a confirmação do projeto de poder petista polarizou ainda mais a política brasileira. De um lado, o sentimento de #Lulanuncamais. Do outro, os votos de gratidão de quem mais foi beneficiado pelos governos Lula – Dilma e a militância aguerrida, porém cega, da sigla. O resultado não podia ser pior. Tanta polarização sepultou viva algumas candidaturas como a de Marina Silva, que chegou a liderar as pesquisas sem Lula e morreu na praia com pouco mais de 1 milhão de votos, quatros anos depois de receber 20 milhões de apostas brasileiras, e de Geraldo Alckmin, todo-poderoso de São Paulo, chefe do PSDB, candidato com o maior número de alianças, que fracassou e não chegou aos 5% na votação.

Uma eleição ideológica, tal qual essa, é lastimável. Não há vencedores. As flores ficaram pelo caminho. Já não há beleza na militância do PT e não existe racionalidade no fenômeno Bolsonaro. Pra onde ir? Qualquer caminho é péssimo, qualquer decisão é questionável e a missão do brasileiro é escolher um caminho.

Mas uma coisa é certa: a onda antipetista transformou boa parte do brasil num cúmplice imoral do ódio, da desgraça e do despreparo. Em 20 anos ou mais, jovens estudantes se assentarão em bancos de escola e tentarão entender o que houve neste momento. Aos meus filhos, direi que fui contra o fascismo, contra o despreparo, contra as ideias desvairadas de retrocesso para o país deles; não sei se isso é o suficiente, mas a minha parte terei orgulho por ter feito.

No entanto, ainda que Bolsonaro perca as eleições, o seu discurso já é vitorioso. Só no primeiro turno, quase 50 milhões de pessoas disseram sim a um país “em nome de Deus e da família tradicional”. Mesmo que perca agora, este discurso ganha força e candidatos que o proclamarem serão eleitos em breve.

Não há para onde correr.

A gente lê certas barbáries que acontecem ao longo da história e não entende como elas acontecem.

Começa mais ou menos assim do jeitinho que a gente tá vendo hoje.

Apesar de você, amanhã há de ser outro dia? Sei não, Chico, sei não…

Por.  Kleysykennyson

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