O que causa desinteresse nos jovens do Ensino Médio?

Por: Eva Monteiro
Professora Eva Monteiro ministrando aula - Foto: Jorge Clésio

A escola pública não consegue mais atrair os jovens, e o que prova isso são as estatísticas do Ministério da Educação e, também, consegui acompanhar através de diálogo com alguns jovens. E os relatos de foram impressionantes. Dei inicio a pesquisa com os jovens de baixa renda e, o que eles falam  sobre a escola. Ouvido 20 estudantes de 17 a 25 anos do ensino médio de Parauapebas, descobri as razões que desmotivam os alunos a frequentarem as aulas.  Os estudantes desejam atividades mais práticas e alegam que exemplos do cotidiano usados em sala de aula facilitariam o aprendizado. Mesmo que, não considerem os conteúdos das aulas relevantes para a vida, os jovens acreditam que o certificado do ensino médio garante mais chances no mercado de trabalho.

De acordo com a pesquisa, a ansiedade dos jovens é por entrar o mais rápido possível no mercado profissional. A maioria deseja encontrar um emprego antes de terminar o ensino médio, mas o modelo de ensino oferecido pelas escolas não corresponde a essas expectativas e, por isso, muitos estudantes optam por parar de estudar para poderem trabalhar.

Os dados mostram, que a maioria, um em cada quatro alunos declarou que só frequenta a escola para conseguir um diploma. “Os jovens têm consciência que é importante ter um diploma, mas a escola não está conseguindo passar o valor do conhecimento aos estudantes”, afirma.

Percebe-se, que as escolas parecem não estar interessadas em se apropriar de recursos tecnológicos para conseguir manter os jovens em sala. Apesar de os entrevistados terem declarado que a escola onde estudam é equipada com computadores, afirmam que nunca utilizaram o equipamento. O baixo uso de tecnologia em sala de aula, a dificuldade em acessar a internet e a proibição do uso de celulares estão entre os fatores que mais incomodam os estudantes.

As rotineiras ausências dos professores também diminuem as chances das escolas reterem os alunos, por exemplo, não tiveram pelo menos uma das aulas programadas no dia anterior à data de participação na pesquisa. Segundo os jovens, também é problemática a relação interpessoal com os educadores. Outra reclamação são os já conhecidos problemas de infraestrutura do ambiente escolar, dos estudantes ressaltaram os problemas em relação à conservação do espaço físico. Também levantaram as situações de equipamentos escolares básicos — como computadores, bibliotecas e quadras de esporte — não é universal. Mesmo quando eles existem, a utilização desses recursos é pouco frequente. A má conservação também contribui para o sentimento de insegurança nas escolas — que é outro ponto crítico para o afastamento dos jovens da escola. “A questão da violência amedronta e atrapalha, pois não torna o ambiente propício para o aprendizado. Para os jovens, os adultos não tem controle da situação. Se eles pudessem contar com os adultos, não haveria essa sensação de insegurança”,  O ensino médio é a etapa da escolarização com o maior índice de evasão, segundo os dados do MEC. O que me comoveu fazer essa pesquisa foi quando em 2016 fui ministrar aula para uma turma de jovem e alguns deles largaram os estudos quando adolescentes e os relatos foram bem parecidos. Destacamos a fala de alguns estudantes:  _ R. J. “Vou fazer supletivo quando completar 18 anos. A escola não me motivava, era muita bagunça. No início do ano não tinha professor e, quando tinha, eles faltavam”, conta.

O jovem, que já repetiu de ano três vezes, reclama ainda da forma de avaliação. “Eles deveriam avaliar de outra forma, usar outros métodos além da prova, que ofereçam mais tempo para o estudante, como trabalhos e apresentações.”  R.J. Também, usa celular e tem acesso a internet em casa, e utiliza a rede para acompanhar as novidades sobre tecnologia e entrar nas redes sociais.

“Este cenário deixa claro que a escola precisa se aproximar da realidade dos alunos, entender as suas expectativas e anseios e envolvê-los nas questões escolares de forma a adequar melhor os projetos pedagógicos às necessidades.

Primeiro as escolas precisam melhorar os serviços que já estão disponíveis. Para reverter os índices de abandono escolar, é necessário garantir professores presentes e preparados, melhorar a infraestrutura, usar as novas tecnologias durante as aulas e zelar pela segurança no ambiente escolar.

Segundo os especialistas, aproximar a escola do universo dos alunos seria o maior desafio. O jovem estudante deve ser ao mesmo tempo sujeito e objeto da ação de seu desenvolvimento. Por isso a importância de projetos extracurriculares que envolvam a comunidade. Projetos de conservação do patrimônio escolar, leitura, reciclagem, são algumas formas de diálogo entre jovem e escola que, além de atrair alunos, também podem integrar o projeto pedagógico das instituições de ensino médio.

Outra dica é diversificar os modelos de formação ou flexibilizar os currículos para atender a demanda dos diversos projetos de vida dos alunos. Além disso, as atividades escolares devem ser mais variadas. A didática aplicada pode ser mais dinâmica e as aulas mais práticas. Fóruns e discussões em sala de aula e trabalhos em grupo são boas alternativas “O ambiente escolar precisa ser reinventado. A pesquisa mostra que a escola perdeu o papel de referência na vida dos jovens e é preciso recuperá-lo. A escola deve ser um espaço para aprofundar os conhecimentos e também para debater e discutir ideias e lançar novos desafios para o futuro”.

Mas como evitar a evasão? Se tivesse apenas uma ficha para apostar na solução no problema, o gestor deveria optar por tornar as aulas atraentes para os alunos, fazê-los entender como o conteúdo pode fazer a diferença na vida dele. Isto porque, mesmo em um país com tantos problemas sociais como o nosso, o maior motivo da evasão é o desinteresse.

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