A história da descoberta de Carajás

Em comemoração aos 50 anos da descoberta de Carajás, a partir desta semana, o público da coluna Mineração do Portal Canaã terá um especial com 3 publicações sobre a história, curiosidades, geologia e personagens que fizeram parte da descoberta da Província Mineral de Carajás. A primeira publicação abordará sobre a história da descoberta de Carajás. Boa leitura!

Em meados de março de 1967, Breno Augusto Santos, jovem geólogo com seus 26 anos, após alguns meses desempregado e com idéias diversificadas, como a tentativa de abandonar a profissão e começar a vender enciclopédia, enviou seu currículo a Gene Edward Tolbert, norte americano, mestre em Geologia Econômica, que havia integrado o quadro de professores da USP de 1959 a 1963 onde Breno o conhecera.

No ano de 1967, Tolbert liderava o programa Brazilian Exploration Program (BEP) de prospecção de manganês a serviço da United States Steel, onde Breno pretendia ingressar. Dias depois, Breno recebera um telegrama da Western para uma entrevista no Rio, sendo contratado e menos de 15 dias, em meados de maio, já seguia sob orientação da Meridional (subsidiária da United States Steel) para Belém.

A partir de então, um ambicioso programa de exploração geológica, cheio de improvisações, iniciava-se na região totalmente desconhecida denominada Araguaia-Xingu, no sul do Pará. Após escolher o local, o próximo passo era definir onde seria a base de apoio, sendo analisada opções como Altamira, vila São Felix do Xingu e um seringal na Ilha de São Francisco onde havia uma pequena pista de pouso, sendo escolhido esta última localidade.

Acampamento pioneiro da ilha de São Francisco do Xingu, com o geólogo Erasto.

Para a implantação do acampamento na ilha de São Francisco, a equipe cruzava a região Araguaia-Xingu em várias direções, num Aero-Commander, transportando de Belém objetos e mantimentos, oportunidade em que os geólogos procuravam a ocorrência de alguma estrutura que pudesse sinalizar a presença de depósitos de manganês, porém só viam floresta impenetrada e diversas clareiras aparentemente naturais e comumente ocorrentes.

Durante quase 30 dias na ilha de São Francisco do Xingu, apenas supervisionando a construção do acampamento e as melhorias da pista de pouso, além do aguardo da chegada dos helicópteros para apoio no mapeamento, Breno a convite do geólogo Erasto, decidiu subir o Xingu numa canoa produzida por um membro da equipe chamado Feliciano para comprar frutas na palafita próxima pertencente a um vizinho cearense, que espantosamente tinha idéia de em que trabalhava um geólogo, algo atípico até os dias de hoje.

Nos primeiros dias de julho de 2017 Tolbert chegava com as fotografias do Projeto Araguaia produzidas pelo DNPM, onde juntamente com a equipe puderam observar que a base na ilha de São Francisco estava rodeada por terrenos granito-gnáissico bem distante das serras e clareiras orientadas a leste, que seriam os indícios da possível ocorrência de depósitos de manganês.

O primeiro desafio do programa Brazilian Exploration Program – BEP” de mapeamento da região Araguaia-Xingu era identificar e entender o porquê da vegetação arbustiva de cerrado em diversas clareiras na região. Como a autonomia de voo dos helicópteros era de 2h (aproximadamente 100km) e as serras orientadas ficavam mais distantes que isso, foi constado a necessidade de mudar a base do acampamento até então situado na ilha São Francisco do Xingu para alguma região mais a leste.

O “Brazilian Exploration Program – BEP” tinha por objetivo a busca de depósitos de minério de manganês e utilizava como modelo geomorfológico as serras orientadas da Serra do Navio no Amapá as quais, aplicadas a região do Araguaia-Xingu, estavam distantes da atual configuração geológica ao entorno da base de acampamento do grupo, sendo então constatado a necessidade de mudança. Breno junto a representante da funai constatou que havia a possibilidade de utilização da pista dos índios caiapós na Aldeia Xicrins, situada no rio Cateté, afluente do alto Itacaiúnas.

Antiga aldeia dos Xicrins, no rio Cateté.

Ao chegar na aldeia e após conversar com um jovem índio, que falava um pouco de português, Breno descobriu que havia uma outra pista localizada a nordeste e em melhor condição de uso, dentro do Castanhal do Cinzento localizado na confluência do rio homônimo e Itacaiunas, pertencente a Demóstenes de Azevedo Filho – o Demostino -, residente de Marabá.

Entre idas e vindas a Marabá para negociar a utilização da pista do Cinzento, enfim na terceira e última Breno Santos reunido com Demóstenes na pensão de Hilda Mutran e usando as estratégias que tinha, um pouco de influência e networking, conseguiu que Demóstenes autorizasse a utilização da pista do Castanhal do Cinzento.

Chegando ao Cinzento, sob neblina, para determinar a autorização

“O Castanhal do Cinzento foi fundamental para a descoberta de Carajás pela Meridional (United States Steel). Enquanto a CODIM transferia sua base para Altamira, afastando-se de Carajás, nós nos instalávamos no seu coração, e sem que ainda o soubéssemos, junto às clareiras das jazidas de ferro, muito próximo da jazida de cobre-ouro do Salobo e não longe das jazidas de cobre-ouro do complexo Bahia-Alemão e, de manganês, de Buritirama e do Azul.” Breno Santos.

Dia 31 de julho de 1967, embarcado no helicóptero Bell-G (PT -CAX) sob comando do piloto Aguiar, na rota sugerida por Breno: São Francisco – rio Xingu – São Félix do Xingu – rio Fresco ­ igarapé Carapanã – rio Cateté – Aldeia Xicrins – rio Cateté – rio Itacaiúnas – Castanhal do Cinzento, os dois chegaram até a serra que era divisor de águas do igarapé Carapanã, onde Aguiar pousaria para abastecimento, não sendo possível devido a cobertura vegetal que dificultou o pouso ocasionando um pequeno acidente.

Então o piloto escolhera novo local de abastecimento e pousou, Breno recolheu amostras, martelou e diagnosticou que se tratava de minério de ferro. “Foi um momento de grande emoção, com conflitos entre o entusiasmo e a dúvida. Contemplando o horizonte comecei a sonhar com a possibilidade de que as grandes clareiras também fossem devidas à mesma causa. Mas essa ideia me assustava pela sua grandiosidade”, conta Breno.

 

 Chegando no Cinzento, Breno chamou Ritter e Erasto para que vissem as amostras coletadas, ao imaginar que as outras clareiras seriam também constituídas por ferro, os jovens geólogos se assustaram pois estariam diante dos maiores depósitos de minério de ferro do mundo.

Ritter e o piloto Aguiar seguiram para reconhecimento do Itacaiúnas até o Cinzento, porém o eixo do rotor de cauda se rompera oriundo de pequeno acidente com palmeira no dia anterior, forçando o piloto a pousar sobre um pedral no meio do rio Itacaiúnas, onde logo receberam assistência.

Neste 02 de agosto, Breno seguiu para Belém juntamente com o piloto Adão, para comunicar Tolbert o início dos trabalhos e a descoberta do depósito. Na segunda quinzena de agosto, com os dois helicópteros da Helitec em condições de voo, os três geólogos da equipe fizeram o reconhecimento das grandes clareiras, logo depois batizadas como N1, N2, N3, N4 e N5 – na Serra Norte -, e S11 – na Serra Sul -, confirmando a hipótese inicial.

Visita do engenheiro Francisco Sayão Lobato na clareira N3,
ao lado do geólogo Breno

 

No dia 16 de setembro, a partir da descoberta do manganês de Buritirama pelo geólogo Erasto, Tolbert foi visitar a região, seguindo para onde fora descoberto manganês um dia antes de ir até as clareiras de ferro. Tolbert logo comentou com Breno: “Quantos geólogos trabalham a vida toda sem ter a alegria de participar de uma grande descoberta… Você está começando a sua vida profissional e já teve essa sorte!”

Posteriormente, Tolbert ainda sob o impacto do que havia visto foi a Belém e enviou para o seu chefe L’ Esperance, em Pittsburgh (EUA), um telegrama relatando a descoberta.

 As informações e alguns trechos foram extraídos da entrevista dada ao jornalista Lúcio Flávio Pinto, publicada na Agenda Amazônica, edição nº 11, de julho de 2000, assim como do livro Pelas Pedras do Caminho Mineral, publicado em 2010 pela editora Signus. As fotos utilizadas nesta publicação são oriundas de arquivo fornecido por Breno Santos denominado Pelas Pedras da Amazônia.

Por.

Camila Rodrigues

 

 

 

 

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