O Destino de uma Nação é uma lição de história e política para todos

Vencedor do Globo de Ouro de melhor ator dramático para Gary Oldman, o drama histórico O Destino de uma Nação, de Joe Wright, explora a mística de um dos maiores líderes do século XX, Winston Churchill (1874-1965).
O político britânico foi igualmente inspiração para outro filme recente, Churchill, de Jonathan Teplitzky – ali interpretado pelo ator escocês Brian Cox. Uma outra diferença mais importante é o período histórico de que tratam os dois filmes. Churchill ambienta-se às vésperas do desembarque dos Aliados na Normandia, em junho de 1944, perto do final da II Guerra Mundial. O Destino de uma Nação, por sua vez, localiza-se temporalmente no início da mesma guerra, em maio de 1940 – época retratada em Dunkirk, de Christopher Nolan.
Naqueles dias, Churchill fora convocado para ser primeiro-ministro britânico, substituindo Neville Chamberlain (Ronald Pickup) que subestimara desastrosamente Adolf Hitler, que acabara de invadir uma série de países – Polônia, Tchecoslováquia, Dinamarca e Noruega, preparando-se para ocupar também a Bélgica, a Holanda e a França. Churchill, ao contrário de Chamberlain, nunca confiara em Hitler mas essa parecia ser seu único trunfo. Estava cercado de desconfiança em seu próprio partido, o Conservador, e só ganhara o cargo porque era o único nome aceito pela oposição Trabalhista, comandada por Clement Atlee (David Schofield), para um governo de coalizão. O próprio rei, George VI (Ben Mendelsohn), não via com bons olhos seu passado manchado por derrotas militares desastrosas, caso de Galípoli, na I Guerra Mundial, quando Churchill comandara a Marinha britânica.
O novo primeiro-ministro enfrentava ainda o boicote sutil do próprio antecessor, Chamberlain, e do visconde Halifax (Stephen Dillane), que esperava seu fracasso para sucedê-lo – contando ainda com a simpatia do rei, seu amigo. Lidar com essa ferina oposição interna, no entanto, foi o primeiro movimento de mestre de Churchill, que manteve os dois inimigos por perto, nomeando-os para um Gabinete de Guerra que, ao lado de líderes militares, discutia as estratégias a seguir diante da ameaça nazista.
O foco principal do filme, evidentemente, é o próprio Churchill, retratado com grande talento por Gary Oldman. Ajudado por uma maquiagem precisa, que o transforma fisicamente para assemelhar-se ao seu personagem, Oldman delicia-se com as nuances de uma personalidade complexa, que aliava uma intuição política certeira com um apego evidente pela autoridade, ao lado de vícios como a gula e a bebida – o primeiro-ministro não dispensava um uísque logo ao café da manhã, intercalando-o com champanhe no almoço e outras doses de uísque e vinho do porto ao longo de noites de trabalho, que se prolongavam até a madrugada. Fora isso, este homem de vontade férrea não raro mostrava-se colérico, como bem pode sentir sua nova secretária, Elizabeth Layton (Lily James), que assume a função crucial de datilografar sua correspondência e os famosos discursos com que ele motivou o moral de seu povo, pelo rádio, ao longo da guerra.
Como a esta altura, todos podem saber o resultado da II Guerra, o que o filme evidencia é como foram árduas as escolhas do primeiro-ministro logo em seus dias iniciais no cargo. Estar cercado de inimigos internos era o de menos quando ele devia decidir-se por uma entre duas opções: continuar enfrentar militarmente os nazistas, que haviam devastado as forças britânicas que apoiavam os belgas e franceses e se encontravam encurraladas na praia francesa de Dunquerque, ou negociar um tratado de paz em condições certamente desfavoráveis com a mediação dos fascistas italianos de Mussollini, como defendia seu rival Halifax.
A solidão de Churchill neste momento é reforçada pela negativa do então presidente norte-americano, Franklin Delano Roosevelt, de mandar auxílio às tropas britânicas cercadas em Dunquerque, que necessitariam de apoio via ar ou mar. (Finalmente, como visto em Dunkirk, o resgate dos 330.000 soldados ingleses viria por meio de barcos civis, uma ideia de Churchill que foi considerada maluca por militares mas deu certo).
Ambientado em boa parte no bunker onde Churchill e o staff britânico tomavam suas decisões, o filme de Joe Wright tem um respiro quando o primeiro-ministro decide consultar os ânimos de seu povo fazendo uma inusitada viagem de metrô. É uma sequência afetiva e humorística, criada como uma licença poética, mas que permite também vislumbrar uma outra faceta do líder – um homem com suas falhas, mas certamente o estadista de que seu país e o mundo precisavam naqueles dias sombrios. Porque, se a Inglaterra tivesse se rendido, quem sabe onde teriam chegado os nazistas.
(Neusa Barbosa, do Cineweb)

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