Pará aumenta alíquota e Vale terá que pagar 3 vezes mais royalties; Entenda o imbróglio

Trem sobre a linha de ferro do S11D. Foto: Jorge Clésio

A cobrança da taxa mineral pelos Estados voltou aos holofotes no início de março, quando o governador Helder Barbalho (MDB) editou um decreto elevando as alíquotas relativas à extração de produtos como níquelcobre e minério de ferro, commodity que é o carro-chefe da Vale. A mineradora brasileira tem no Pará duas de suas principais minas: Carajás e S11D.

Para o minério de ferro, a taxa saiu de 1 para 3 Unidades de Padrão Fiscal – UPF-PA, cotada a R$ 3,7292 por tonelada. Levando em conta a produção da Vale no Estado em 2020, de 192,3 milhões de toneladas, o pagamento do tributo pela mineradora triplicaria com a nova taxa, saindo de R$ 717 milhões para R$ 2,2 bilhões por ano. A título de comparação, entre outubro e dezembro do ano passado, a Vale teve lucro de R$ 4,8 bilhões.

Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) disse que “recebeu com surpresa” a alteração das alíquotas pelo governo do Pará. A entidade defende que a taxa é inconstitucional e que não houve qualquer alteração nas operações que justificasse a elevação do valor cobrado. Segundo o instituto, a legislação estadual vigente determina que a alteração das alíquotas só poderia acontecer em 2031. O Ibram afirma ainda que a alta não pode incidir em 2021, já que é inconstitucional cobrar aumento de tributo no mesmo exercício financeiro.

Em 2012, ano seguinte à criação da taxa, a Vale chegou a registrar uma provisão de R$ 294 milhões no balanço do terceiro trimestre relativa ao pagamento. Logo em seguida, chegou a um acordo com o governo do Pará, que reduziu o valor cobrado a um terço. No formulário 20-F deste ano, enviado ao órgão regulador do mercado americano, a Vale diz que vários Estados brasileiros, incluindo Minas GeraisPará e Mato Grosso do Sul, impõem a TFRM sobre a produção mineral.

O governo do Pará também não se manifestou sobre o aumento da taxa, mas fontes apontam que está relacionado a uma forte insatisfação do governo Helder Barbalho com a Vale.

Há anos o governo local pressiona a companhia por uma verticalização da cadeia mineral. Em 2019, a empresa assinou um protocolo de intenções para apoiar a estruturação financeira de uma laminadora de aço em Marabá pela China Communication Construction Company, mas o projeto não saiu do papel. Há ainda a expectativa de instalação no estado de uma unidade da Tecnored, produtora de ferro-gusa de baixo carbono (gusa “verde”).

No dia 26 de março, o procurador-geral do estado do Pará, Ricardo Sefer, criticou a Vale em transmissão ao vivo organizada no Instagram pelo jurista e presidente do PSD no Pará, Helenilson Pontes. “A visão que o governo [do Pará] tem da Vale é muito ruim. É uma empresa que muito tira e pouco deixa,” disse. A companhia extrai quase dois terços de seu minério de ferro em solo paraense e foi beneficiada por décadas com isenções impostas pela Lei Kandir, que desonera os produtos do portfólio da mineradora.

Um dos criadores da TFRM em 2011, Pontes é especialista em tributação e livre docente da matéria na USP. Ele defende que a taxa é vinculada ao poder de polícia do estado, que não se esgota com a fiscalização. “É o poder de atuar em todas as esferas impactadas pela atividade mineral,” afirma. A Constituição, diz o jurista, admite taxas de serviço e de poder de polícia, caso da taxa mineral. Ele defende que os recursos arrecadados podem ser destinados a investimentos públicos em Saúde, Educação, Saneamento e outras áreas sociais, desde que para mitigar efeitos nocivos da mineração.

Com informações do Estadao e Blog do Zedudu

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One thought on “Pará aumenta alíquota e Vale terá que pagar 3 vezes mais royalties; Entenda o imbróglio

  1. Parabéns Hélder pela iniciativa! Nenhum governo teve coragem para regular essa extração sem contrapartidas e emprego aqui no estado do Pará!

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