Venho por meio desta coluna ralé desse escritor meia boca e esquerdista dizer que, enfim, estou acabando. Eu sou o ano de 2018. Admito que passei arrastado, que tragédias aconteceram durante a minha gestão, como a morte da Marielle, do Anderson, do Stan Lee, da Dona Ivone Lara e do Stephen Hawking – nem sei porque vocês reclamam tanto das mortes, se eu levei o Bush embora também; acredito que exista um equilíbrio aí – mas garanto que vocês sentirão a minha falta.
Tal qual mar poluído, eu trouxe à praia imundices como Bolsonaro, Mourão, Kataguiri, Frota, Hasselmann, Guedes e algumas outras porcarias. Mas não se esqueçam, se durante a minha existência eles foram eleitos, na minha sucessão, em 2019, será o ano em que eles estarão no poder destilando frases preconceituosas com uma pequena diferença: foro privilegiado pra dizerem a bobagem que bem entenderem. Vocês não têm ideia do problemão que será! Cobrem de 2019, 2020; estes serão os anos em que tais criaturas farão o que quiserem e estarão acima do bem e do mal.
Eu sei que não foi nada fácil para vocês; eu sei. Vi que as brigas com familiares mortadelas e coxinhas foram inevitáveis e cada vez piores; notei tudo isso, mas não pude fazer muita coisa. Vocês culpam demais os anos que passam pelas vidas péssimas que levam.
Bom, eu afirmo que já estou me retirando. A sensação é ruim, de cinzas, mas a tendência, acredito eu, é que tudo piore. Anos são apenas números e nada se renova quando as coisas permanecem iguais dentro das pessoas. E vocês não mudam. Aliás, até mudam, mas a maioria só piora.
Eu vou embora, com toda a dignidade do mundo, sem olhar para trás, mas quando dias piores chegarem vocês lembrarão de mim e sentirão saudade… “Bons tempos eram aqueles quando as coisas eram ruins, mas a gente era feliz.”
Aí será tarde demais. Eu não volto nunca mais.
