The Walking Greve: uma crônica sobre o fim dos tempos

Filas em postos de combustível, educação paralisada, prateleiras vazias de supermercado, zumbis atordoados nas ruas: ‘gasolina, gasolina, gasolina…’ O juízo final está próximo ou a safadeza é que ficou grande?

De volta aos primórdios, essa gente nunca havia reparado que há uma linha tênue entre o existir e o fim. Essa gente pouco sabia que o fim do mundo é frágil, que é logo ali na greve, ali na curva, ali… Todo esse povo que adia o juízo final e lança essa data para futuros distantes, incertos, impróprios para o horário, se viu surpreso com a dimensão da indignação, com o preço da revolta. O apocalipse, quem diria, veio bem depois de 2012, bem depois do fim de Brad e Angelina, William e Fátima e de Chimbinha e Joelma. Vai entender.

Sem tantas explicações assim, esse povo conformado apoia com memes e textos copiados, de longe, a greve de milhares de caminhoneiros espalhados por todo o Brasil e, enquanto compartilham feito zumbis as novidades que se espalham aos quatro ventos, aglomeram-se em filas por uma chance a mais de ostentarem suas posses e levarem as suas vidas normais; até parece que o fim do mundo não chegou.

Já não há hospitais, nem escolas, nem comidas nas prateleiras de supermercados… Ninguém estava pronto para nada. No país tropical, não há precedentes de fim do mundo, nunca houve invernos rigorosos, nem vendavais apocalípticos. Não se pode comer minérios de ferro e já não há o que comprar com tantos royalties.

Fome, sua louca! Já na porta a troco de quê? Por quê? Ah, no fim do mundo não há poesia, quem diria… Educação, meu bem, dá um tempo, tá? Já não há maneiras de levar adiante o aprendizado a essas crianças e é até melhor que esses meninos e meninas fiquem mais perto de suas famílias em tempos de ruína da sociedade. O lixo vai se acumular, as doenças vão aparecer e, como já nem há hospitais, só o que há no horizonte é o fim dos dias.

No fim do mundo, só há a tragédia… Daqui do canto, a gente só vê sacrifícios, precipícios, muros, princípios de guerra… Não há explosões no céu, não há crateras que se abrem de repente aos nossos pés… O que há, por incrível que pareça, é o tédio… O tédio das filas, o tédio que mora no certeza do fim.

Filas em postos de combustível, educação paralisada, prateleiras vazias de supermercado, zumbis atordoados nas ruas: ‘gasolina, gasolina, gasolina…’ O juízo final está próximo ou a safadeza é que ficou grande?

Não há horizonte, não há esperança… luz no fim do túnel? Para quem, afinal? A gente vive o princípio do fim e o que se pode fazer é esperar pela tragédia e lamentar o fim do mundo. Tal qual zumbis, a nossa meta é ficar em pé, apenas, até a próxima carcaça a ser devorada.

A greve não é só pelo combustível, mas o cansaço é geral e, no fim, se houver vitória, pouco vai importar. Vivemos, em tédio, o nosso apocalipse e qual será, nos próximos dias, a distopia que a gente vai ter pra contar?

Por: Kleysykennyson Carneiro

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