Onde queres carta branca, Bolsonaro, eu sou Amarildo

Perdemos! E admitir isso não é tão doloroso quanto a ciência do que nos espera nos próximos dias. O desencanto pela política, o desagrado, a desesperança, o desligar-se do centro das decisões. Perdemos em vão, para o discurso frágil, para as soluções simples, para as táticas fascistas, para o ódio às minorias, para o embebedar-se das impuras insanidades; perdemos. E não foi para o outro lado apenas; perdemos, admitam, para nós mesmos também. Não só nas urnas, mas em nossas casas, em nossos bairros, nos melhores ombros que tínhamos. Nós perdemos e é necessário entender que tempos obscuros hão de vir em breve, muito em breve. Já não há como postergar o fato de que seremos governados por uma chapa autoritária, que flerta com o fascismo, que se alia ao que há de mais cruel no liberalismo econômico, que mente, que saúda e lê um torturador. Ah, dói admitir, mas o devaneio dos fanáticos se concretizou e não há mais nada o que possa ser feito. A ficha precisa cair, turma. O jogo acabou.

No entanto, o sol precisa raiar outra vez e ressurgir é algo urgente. Onde queres carta branca para PM matar, Bolsonaro, eu sou Amarildo. Preto, pobre, favelado, desaparecido, vítima do despreparo, da intransigência, do caos, da injustiça. Onde queres repressão, sou honestidade, onde queres autoritarismo, resisto como democracia, onde queres queimada, sou Chico Mendes, Doroth Stang, José Claudio Ribeiro e Maria do Espirito Santo. Onde queres Ustra, sou Amelinha Teles.

Onde queres neoliberalismo, sou mãe solteira com três filhos pra criar. Onde queres fechamento do congresso, tortura e fim do STF, sou resistência, a espera por justiça e ressurjo das cinzas tal qual nem esperavas.

Vais insistir em matar as rosas vermelhas? Não deterás a primavera jamais. A primavera de rosas, tulipas, orquídeas, margaridas… O sol há de nascer amanhã e não há desesperança, medo ou ameaça que possa impedir o renascer da luta.

É preciso admitir que estamos em frangalhos, destruídos pelo ódio, pela hipocrisia, pela discriminação, pela ignorância e por tudo o que há de pior na política brasileira. Ainda assim, reconhecendo a derrota e o fracasso, a luta recomeça no dia seguinte. Ainda que haja choro, sangue e fome, não há de se permitir o fim da luta. A oposição é necessária sempre, visto que o fascismo cresce nas ruas, a sede de sangue cresce no coração das piores pessoas e a eleição de um falso mito é o fertilizante para o crescimento do mal.

Mas a cabeça segue erguida e o peito ainda anda aberto. Onde queres silêncio, sou Johnny, Camila, Caetano, Gil, Chico, Roger, Madonna, Zé Newton, Nathália, Karine, Virginia . Onde de mim não esperas mais nada, sou ressurreição, não ao terceiro dia, mas sim ao quarto ano.

Ah, bruta flor do querer… Aromas, espinhos, trevas, luz. A gente é feito fênix que renasce quando for o tempo de ser.

Por. Kleysykennyson

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