Nem adianta dizer que não, eu sei que você morreu sem mim

Por: Kleysykennyson Carneiro

Eu fui embora dois meses atrás. Levei nas malas as roupas, as cartas, os remédios pra dormir, os cacos do nosso amor e os pedaços de um coração que nunca mais foi o mesmo. Você me mandou pro inferno e eu só me mudei pro subúrbio pra tentar te esquecer. À caminho do trabalho, um boteco virou parada certa. E, pelo espelho do bar, eu fico vendo reflexos dos porres de outras dores de amor. Eu vejo a dor das pessoas, a dor do cansaço, do descaso, do descrédito, do desamor. Meu amor, faz dois meses que eu te obedeci e vim parar no inferno de viver sem você. Eu vim até o abismo e vi a cara da amargura de perto, a cara da desolação. Sabe a dor, meu amor, de se perder em esquinas sem perdão?

Mas hoje, doce amor, eu decidi vir até aqui. Vir até aqui e ver se a gente ainda tem conserto. Decidi vir e apostar todas as minhas fichas num recomeço. Reparei que os cabides continuam vazios e pouca coisa mudou. Reparei também nas suas olheiras, nas unhas roídas, no esmalte em frangalhos e nas coisas deixadas por aí… De repente, a bagunça que ficou na sua vida é a mesma que ficou na minha e a gente precisa se reacender. São dois meses de uma dor dos diabos no coração. Uma dor sem precedentes, uma tragédia pessoal e duas histórias que, na verdade, são apenas uma. Nós dois, meu bem, não fomos feitos para ficar separados. Esse abismo entre nós dois não precisa existir.

Nem vem, meu bem… Esse sorriso sem graça já te entregou. Nem adianta dizer que não, eu sei que você morreu sem mim. Eu sei que você secou por dentro e por fora. Sei do gosto amargo que ficou na boca, sei que você só me mandou pro inferno por não saber direito o que fazer diante de problemas tão pequenos. Hoje eu quero voltar a ficar perto do teu cheiro, testar os limites da tua paciência com os meus poemas sem sentido. Hoje eu quero dar corda pra tua hipocondria de novo. Quero atender os teus desejos incontroláveis por açaí a qualquer hora. E quero reconstruir os nossos caminhos…

Você diz que não, mas essas garrafas vazias de cerveja dizem que você morreu sem mim. Tanto álcool, tanta pressa em se embriagar é só urgência em tentar apagar os vestígios do nosso caso de alma, pele e verbos.
Meu amor! Abre essa porta, deixa eu entrar, deixa a gente se refazer.
Pra falar a verdade, eu também morri sem você…
E se a gente se ama tanto, pra que continuar a se matar?

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