Caso alguém não tenha notado, o S11D só podia ser no Pará

Um fato elementar da mineração é que se trata de uma atividade locacional. Caso alguém não tenha notado, o S11D só podia ser no Pará.

Na última semana, diversos websites de notícias, incluindo este aqui, reproduziram uma matéria da Bloomberg que dá a entender que políticos de Minas Gerais estariam, entre outras coisas, fritando Murilo Ferreira, o atual diretor-presidente da Vale. Entre diversos motivos, porque ele teria investido mais no S11D, no Pará do PSDB, do que nas Minas Gerais do PT. Vejo aqui uma certa esquizofrenia, mais dos jornalistas do que dos políticos. O outro motivo é que Murilo teria sido aliado próximo de Dilma.

Vamos aos fatos. O projeto S11D começou na gestão anterior, de Roger Agnelli, e não é obra do Murilo. Os especialistas em história da Vale podem até me corrigir, mas a área do S11D foi descoberta na mesma época que o resto todo. Quando a mina de Carajás começou a funcionar, em 1985, o que viria a ser o S11D era conhecido e tudo apenas não começou por lá, um depósito maior do aquele por onde começou a lavra, porque o custo seria maior, principalmente com ferrovia e tratamento, uma vez que o minério da Serra Norte tinha menos contaminantes.

Geograficamente, a N4E, mina principal de Carajás, fica na Serra Norte (daí o N), enquanto o S11D fica na Serra Sul (daí o S, o restante se refere a corpo mineral e bloco). E a mina inicial tinha reservas (pelos padrões da época, ex-China) para 500 anos de vida útil. Logo, para que S11D? A resposta veio depois da ascensão da China como maior produtor mundial de aço.

É também de conhecimento geral que em Minas Gerais, nas minas atuais, sobrou somente itabiritos e similares, duros de moer e com teor inferior aos minérios do Pará. A Vale fez até muitos investimentos em Minas para prolongar a vida útil das minas locais, que vão continuar lá aproveitando a EFVM e o porto de Tubarão, por muitas décadas ainda.

Amparado em um bom plano estratégico, Murilo, que assumiu a Vale quando o preço do minério estava em US$ 175 a tonelada (o pico fora três meses antes, a US$ 190), gastou um ano preparando o que fazer quando o minério estava a US$ 138.

E optou por suspender todos os megaprojetos, em especial os que não eram para minério de ferro, incluindo alguns já em estágio avançado como o PRC, na Argentina.

Detonou o bilionário Simandou, implodiu projetos de hidrocarbonetos, cancelou investimentos em fertilizantes, incluindo os do Canadá, onde ficaram os empreendimentos obrigatórios de sustentabilidade.

E vendeu tudo o que tinha direito, minas de carvão na Austrália, projetos e energia e dezenas de participações. Sem falar no corte monstruoso dos gastos com exploração, que caiu de US$ 900 milhões para menos de US$ 300 milhões por ano.

Os projetos voltados para manutenção de produção, os de capital corrente, de minério de ferro ficaram, assim como os de construção de navios Valemax, entrepostos em Omã e Malásia bem como outros voltados para a redução de custos. Enfim, a Vale retomou a rota para ser a melhor do minério de ferro, voltou para a estratégia original. Sem isso, a Vale estaria tão endividada quanto os Estados brasileiros, incluindo Pará e Minas.

A esquizofrenia deixo por conta da alegação de que Murilo se tornou presidente com o apoio de Lula, em 2011, e é aliado de Dilma. Se era tão próximo assim, deveria ter investido mais em Minas, governada hoje pelo PT.

Lembro que, como acontece desde que a Vale foi privatizada, uma vez que os fundos de pensão de estatais e o BNDES têm uma fatia maior da Valepar, o governo, seja ele qual for tem o poder (e frequentemente o desejo) de indicar quem senta na cadeira de presidente da Vale.

Em um momento de transição e avidez por cargos similar àquela que vemos hoje, o embaixador e tradutor Jório Dauster foi presidente da Vale, de 1999 a 2001. O importante, para sentar nessa cadeira, é ter credencial. Se tiver pedigree também, melhor. (Britador)

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