Canaã ainda é tão 1994

Não há leite e nem mel. E nem água em breve, dizem. Não há estabilidade econômica, mas há placas de aluga-se por todo o lugar. Já há casas abandonadas, malas arrumadas e fuga em massa do lugar que prometia ser o futuro. Futuro para quem? A cidade é sem graça e cinza. O povo é só apatia e conformismo. As portas se fecham no comércio e na cara das pessoas. É uma cidade muito engraçada, não tem governo, não tem nada.

Cinco ou seis gatos pingados ficam por aí, se dando bem, vivendo bem e o povo é miserável. Os pioneiros são chatos, se acham donos do lugar, a burguesia parou no tempo e o proletário se conformou com o pouco e com o nada. Canaã dos Carajás ainda é currutela. É uma cidade que se tem muito e se faz pouco. Tudo é tão brega e tão 1994.

Ninguém sabe bem do amanhã, apesar de saberem que essa é eternamente a cidade do futuro. Mas esses planos não saem do papel. Não chegam nem na esquina. Que cidade estranha! É uma cidade muito engraçada, ninguém pode ficar nela não, pois emprego não tem não. Tudo é tão 1994, tão fraquinho. Eles engatinham em direção ao amanhã e não vão chegar nunca, pois a preguiça e a má vontade reinam por todo o lugar.

As portas se fecham para a juventude. O sinal está fechado. O mercado também. E se a gente marcasse de ir todo mundo embora? Deixasse só essa meia dúzia que se dá bem… O que seria do lugar?

Quando se olha para a Câmara, a vontade que dá é de gargalhar. Uma cidade do futuro não pode eleger alguns vereadores que estão ali por puro reflexo da nossa breguice e por laços eternos com o passado, com o que não evoluiu. O tempo passa e tudo continua como antes. Não há pressa, nem brisa de boas novas, nem mundo novo a se contemplar… É só o desgoverno… A cidade caminha a passos largo para um precipício, um colapso nervoso. Como o comércio vai se sustentar? Morreremos pelas nossas insuficiências, pela nossa frouxidão, pelo nosso comodismo. 23 anos se passaram e ainda estamos presos ao passado.

É tanto pioneiro cantando de galo e retendo o poder que dá até medo do que isso aqui pode se tornar. É tanta gente indo embora, tanta mala arrumada, tanta incerteza, tantos planos frustrados… Era daqui que emanaria leite e mel?

Eles estão presos ao passado e não conseguem enxergar que as coisas novas precisam vir, que é cafona se ater ao que já foi, se vangloriar pelo que já foi feito… Eles são caretas e não sabem disso. São semideuses toscos, frustrados… Essa terra já tem dono e não dá mais para ninguém tentar vencer.

As placas de aluguel, as estampas de vendas, o abandono dos lares… Tudo é tão pitoresco. Tudo se afunda e os reis cantando de galo, em trajes de gala, falando sobre o futuro, prometendo o céu, mas ninguém sabe ao certo o porvir… Falam em deputados, mas mal temos vereadores… Vamos deixar de delírio, tá? O tempo parou na janela, a brisa com as novidades do futuro fez a curva na entrada da cidade e fugiu por cima do morro das antenas pra nunca mais voltar… É o medo, é o medo… Vamos cair num precipício e ninguém pode nos salvar. Tudo é tão brega e tão cinza…

Canaã dos Carajás ainda é tão 1994 e ninguém parece se importar. A gente morre à míngua, sem trégua, a léguas de qualquer lugar.E nada muda e tudo parou. Vinte anos se passaram e a gente é ainda é tão 1994.

Por.

Kleysykennyson Carneiro

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