Coluna do Kerley Carvalhedo: As ilusões sobre o ano-novo

Por muito tempo, fiz listinha de boas intenções para cumprir depois da noite de Réveillon. Fazer era fácil, cumprir era quase impossível. Por melhores que sejam as intenções, a procrastinação é sempre aliada, irmã gêmea do ócio. Espera-se que a partir de janeiro as coisas mudem. Que
os projetos sejam executados, que os sonhos se realizem e o resto do ano vire festa. “Espera-se.” Não é preciso aguardar o ano-novo para começar a mexer-se. Acreditar que por decreto do destino haverá transformação sem ao menos se levantar do lugar é mais um caminho que o levará às procrastinarias. Só há novo quando o novo se faz. Não adianta repetir mantras e se deixar-se dominar pelo medo do real sentido da vida.
Para fazer novo, é preciso cumprir as promessas estagnadas, principalmente aquelas que sempre deixamos para depois. “Depois vou praticar exercícios físicos, parar de fumar; mudar de hábitos, vou deixar esse relacionamento tóxico”. E por aí em diante. Ano-novo se faz todos os dias. Não precisa de virada de ano para vir a ser novo o que desejamos. Comece seu novo agora mesmo.
O importante é essa habilidade de conquistar o novo sem sofrimento mútuo, sem desgaste emocional do ritmo inconstante da vida. A receita do novo é simples: se te sufoca, fuja. Se te estressou, viaje. Se te constrangeram, finja. Se quiser, corra atrás. Se não der mais certo, deixe ir. Se te prejudica, caia fora. Se não gostou, fale. Se tá chato, vá embora. Se perdeu, conforme-se. Se te assusta, faça poesia. Se não derem passagem, volte. Se estiver te fazendo mal, peça demissão. Se errou, corrija. Se magoou, supere. Se ama, cuide. Se gosta, proteja. Se não serve, deixe de lado. Se não ama, não iluda. Se quiser ir mais longe, compre uma mala maior. Se quiser mudança comece agora, nem que seja trocando a meia furada. Faça seu Réveillon na hora em que quiser. Esse tal de ano-novo só será novo de verdade quando você o fizer.

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