Em 2022, durante a campanha presidencial, a promessa de “comer picanha” ecoou como um símbolo de esperança para milhões de brasileiros.
A vitória de Lula trouxe consigo a expectativa de dias melhores, com a volta do poder de compra e do acesso a itens que haviam se tornado luxos para muitos, porém a realidade continua, e com menos fatores econômicos.
Este ano, a realidade econômica mudou o foco: o que pesa no bolso agora não é mais a carne, mas o ovo – um alimento básico que se transformou em termômetro da inflação galopante que assola o país.
Por anos, o ovo foi o herói silencioso da mesa brasileira. Barato, versátil e nutritivo, ele se consolidou como alternativa em tempos de alta nos preços da carne (há muito tempo).
Mas, em 2025, esse aliado do orçamento familiar virou um vilão inesperado. A caixa com 30 dúzias, que custava cerca de R$ 140 em meados de 2024, agora ultrapassa os R$ 200 em muitas regiões – um aumento de mais de 40% em menos de um ano. Em alguns estados, o consumidor chega a pagar R$ 1,50 por unidade no varejo, um valor que rivaliza com o preço de cortes simples de frango.
O que explica essa escalada? Especialistas apontam uma combinação de fatores. Primeiro, o custo do milho, principal componente da ração das galinhas, subiu cerca de 30% desde o ano passado, pressionado por secas e exportações recordes.
Segundo, o preço das embalagens, como as caixas de papelão, disparou mais de 100% devido à alta do dólar e à crise na cadeia de suprimentos. Além disso, ondas de calor históricas em 2024 e início de 2025 reduziram a produtividade das aves, com quedas na postura que chegaram a 15% em algumas granjas. Para completar, a demanda sazonal – impulsionada pelo retorno às aulas e pela Quaresma – aqueceu ainda mais o mercado, escancarando o desequilíbrio entre oferta e procura.
A Picanha Ficou no Passado
Enquanto o ovo encarece, a picanha, que já foi o ícone de uma prosperidade almejada, permanece um sonho distante para a maioria. Dados do IBGE mostram que o preço médio da carne bovina segue em patamares elevados, com a picanha custando cerca de R$ 70 por quilo em grandes centros urbanos. Para uma família média, que viu a inflação corroer 12% do poder de compra desde o início de 2023, o churrasco de domingo deu lugar a pratos mais simples – mas agora até o ovo frito exige planejamento.
A gestão Lula, que assumiu com a promessa de controlar a inflação e devolver dignidade à mesa do brasileiro, enfrenta críticas crescentes. Economistas apontam que, apesar de medidas como a redução de impostos sobre combustíveis e o aumento do Bolsa Família, a política monetária e os choques climáticos globais têm limitado os resultados. “A inflação dos alimentos é um problema estrutural, agravado por variáveis externas. O governo precisa de uma estratégia mais agressiva para apoiar os produtores e estabilizar os preços”, analisa Mariana Costa, economista da FGV.
As perspectivas não são animadoras. Com a previsão de mais calor intenso nos próximos meses e a dependência de insumos importados, o preço do ovo deve continuar pressionado até pelo menos o segundo semestre de 2025. Para os brasileiros, o desafio é se adaptar a uma realidade em que até o básico exige malabarismos financeiros. O sonho da picanha pode ter ficado no passado, mas o peso do ovo no bolso é o presente que ninguém esperava.