Com quase 300 mil moradores, sessões da Câmara de Parauapebas somam menos de 3 mil visualizações no YouTube

Câmara de Parauapebas / Foto: Jorge Clésio

Às terças-feiras, às nove da manhã, uma cidade inteira tem um encontro marcado com seu futuro. Ou deveria ter. Com quase 300 mil habitantes, para ser mais exato 298.854, segundo o IBGE , Parauapebas se reúne, formalmente, em seu Parlamento. Ali, nas sessões ordinárias da Câmara Municipal, discute-se o orçamento, projetos de lei, requerimentos e moções que afetam o cotidiano de todos: do alvará do comerciante ao buraco na rua do bairro mais esquecido.

Mas quem está assistindo?

No YouTube, onde as sessões são transmitidas ao vivo e ficam disponíveis para quem quiser ver depois, o público é tímido. Menos de 3 mil visualizações, em média. A sessão de 15 de abril, por exemplo, com mais de cinco horas de duração, teve apenas 1,9 mil visualizações. Um número que, ainda assim, pode ser inflado por cliques rápidos, espectadores que entram e saem sem se deter.

O pico de audiência foi na posse, no início da legislatura, com 16 mil visualizações. Talvez pelo simbolismo do momento, talvez pelo calor das eleições ainda recente, ou quem sabe pela curiosidade em ver quem chegou lá. Depois disso, o desinteresse parece ter se instalado como uma névoa.

Há um abismo entre a quantidade de gente que reclama da política e a que acompanha a política. Entre os que cobram mais atuação dos vereadores e os que sequer sabem o que foi votado na última sessão. É como se a cidade preferisse se informar pelos rumores do WhatsApp do que pelo canal oficial da própria democracia.

Talvez seja o momento de repensar as pontes entre o Legislativo e a comunidade. Reativar programas como o “Vereador Mirim”, que aproxima os jovens da política desde cedo, ou retomar o “Câmara nos Bairros”, que levava os debates até onde o povo está. Se o povo não vai até a política, talvez a política deva ir até o povo  de verdade, com escuta, presença e continuidade.

Porque não se trata apenas de números no YouTube. Trata-se de uma metáfora. Se menos de 1% da população está acompanhando o trabalho do Legislativo, o que isso diz sobre o nosso envolvimento com os rumos da cidade?

Política, para muitos, ainda é algo que se consome apenas em época de campanha. O resto do tempo é como uma novela que a gente não assiste: dá palpite sem saber o enredo. O problema é que, nessa trama, somos todos personagens, mesmo os que não se dão ao trabalho de ver os capítulos.

Parauapebas pode ser muita coisa. Pode ser mineradora, operária, empreendedora, multicultural. Mas, pelo menos nas terças-feiras às nove, ela ainda não descobriu a força que tem quando decide participar.

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