Ponte do Moju entregue, o fim de uma longa e penosa novela

Coluna do Branco

Na madrugada do dia 23 de março de 2014, uma das pontes do complexo rodoviário “Alça Viária”, sob o rio Moju que margeia município de mesmo nome, foi atingida em um de seus pilares por uma balsa de uma empresa de navegação particular. Quando o dia amanheceu se observava dois vãos que eram ligados pelo pilar atingido, pendurados, sustentados pelas vigas de ferro da estrutura metálica da ponte. Imagem que tornou-se emblemática.

A partir daquele momento um dos maiores pontos de conexão do estado do Pará estava interrompido em seu modal rodoviário. Historicamente o nosso estado é uma ilha econômica, haja vista, as suas grandes desigualdades regionais, criadas por falta de ligação interna. As principais cidades paraenses poderiam ser consideradas feudos, caso estivéssemos na Idade Média. O acidente na ponte seria trágico para a economia paraense, como de fato foi.

Em processo de retrospectiva, o ano de 2014 acabava sem nenhuma intervenção por parte do governo do Estado. Por nove meses a estrutura da ponte ficou igual ao dia do acidente. O governador Jatene mandou construir uma rota alternativa que foi a reativação da travessia do rio via balsas ou embarcações pequenas. No final daquele ano, que por sinal, era de disputa eleitoral, a pressão por uma definição por parte do governo aumentava. Não se aceitava a inércia governamental no caso, sem nada fazer.

A justificativa palaciana era a questão da segurança e redução de custos. Havia a possibilidade de implodir toda a estrutura ou recuperar o setor afetado. O governador optou pela recuperação apenas do trecho atingido. Empresas e técnicos de outros estados e até de fora do país foram chamados para a operação. A promessa da reinauguração seria até o meio do ano de 2015, prazo rapidamente postergado pelos secretários de governo, fixando uma nova data para antes do natal, sem definir dia específico.

Nunca foi feito, ou se foi, nunca se divulgou dados de institutos de pesquisas ou de atuação acadêmica, análises referentes aos prejuízos econômicos que foram ocasionados com o acidente. Sem pesquisa é sabido que muitos milhões de reais deixaram de circular no Pará por conta da dificuldade de transporte que se instalou no local. A ponte sob o rio Moju, a quarta da Alça Viária, interliga a RMB (Região Metropolitana de Belém) as regiões sul e sudeste, responsáveis por grande porcentagem da balança comercial paraense.

Depois de um ano e nove meses do acidente, o governo Simão Jatene entregou neste último sábado (19) a “nova” ponte sob o rio Moju. A entrega foi um grande espetáculo, bem aos moldes tucanos de pirotecnia. Parecia que uma nova ponte havia sido feita e não apenas um pequeno trecho de 70 metros, área atingida pelo impacto da balsa. Além do pilar afetado ter sido refeito e recolocado os vãos que foram retirados, por medida de segurança, depois de quase duas décadas de atraso, todos os outros pilares foram protegidos com barreiras de concretos. Medida simples e que poderia ter evitado todo esse transtorno. As outras pontes serão protegidas da mesma forma?

A ponte sob o rio Moju entrou para a história como um triste exemplo da inércia administrativa que se pode abater sob um governo, neste caso o terceiro de Simão Robson Jatene. Na relação entre a irresponsabilidade privada e a inoperância do poder público, a conta recai sob a sociedade, o elo mais frágil na relação. Triste Pará.

 12006182_1468572010139284_2965935745697830044_nProf. Henrique BRANCO – Licenciado em geografia com pós-graduação a nível de especialização em Geografia da Amazônia – Sociedade e gestão de recursos naturais. Professor que atua nas redes de ensino público e particular de Parauapebas. Assina diariamente o “Blog do Branco”www.henriquembranco.blogspot.com além de jornal e sites da referida cidade.

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