Quando um deputado eleito pelo voto popular não sente segurança para legislar em seu próprio país e uma criança de 11 anos se torna o termo mais procurado em um site pornográfico, o óbvio é constatado: o Brasil está caindo aos pedaços
Enquanto grupos de extrema-direita, extrema-esquerda, esquerda, direita, centro-esquerda, direita moderada e evangélicos, que não se encaixam em lugar nenhum, digladiam-se em loopings infinitos de grupões de whatsapp por opiniões que jamais serão mudadas, coisas mais graves acontecem em um país que parece condenado a afundar nas suas próprias insuficiências.
Incontáveis tweets publicados na última quinta-feira (24) comemoravam o fato do deputado eleito pelo PSOL do Rio de Janeiro, Jean Wyllys, ter desistido do mandato. O próprio presidente, sempre cheio de coragem nas redes sociais, chamou a quinta cinza de “grande dia”. A comemoração, mais uma vez, deixou evidente o quão despreparado é o presidente que o Brasil escolheu para si.
Jean desistiu do terceiro mandato pelo medo. Isso não é vergonhoso; ir embora por não se sentir seguro não é algo indigno, não é pecado e nem um ato de covardia. Ir embora às vezes é a única saída. Ir embora, apesar de dolorido, muitas vezes, é só o que resta diante do absurdo.
O absurdo que reside nas ameaças de morte. Ameaças de gente ignorante, teleguiada por notícias mentirosas, pela fajuta enganação indecente. Wyllys incomoda muita gente. Incomoda porque suas opiniões são socos no estômago do preconceito e porque a sua luta vai de encontro a privilégios históricos; a gente representada por Jean tem cada vez mais voz e isso é motivo para a ignorância ter medo. O absurdo existe quando se comemora, feito um moleque, o autoexílio de um político por ameaças de morte.
Do outro lado, uma menina de 11 anos se tornou o desejo sexual de mentes malignas e criminosas. Sim, a criança que acumula milhões de seguidores nas redes sociais e, pela falta de consciência dos pais, abusa de poses sensuais em suas fotos, se tornou o tema mais pesquisado no site pornográfico de maior acesso no Brasil, o Xvideos. Obviamente não há nenhum conteúdo da garota no site, mas o fato de o seu nome ser o mais digitado na plataforma revela um país que se esconde por trás da moralidade para atuar da pior forma possível. Melody é alvo de mentes criminosas e doentes; o Brasil tem conserto?
Enquanto os poucos minutos de discurso do presidente e a luta por um condenado petista roubam a atenção nacional, nós estamos diante do nascimento de monstros muito piores. Os casos de Wyllys e Melody parecem não ter nada um com o outro, mas há mais o que ser visto.
O mesmo país que afugenta um deputado eleito, porque este, supostamente, é contra a moral e os bons costumes, é o mesmo que erotiza uma criança de 11 anos. O mesmo país que ameaça um Jean de morte, mostra a sua cara mais sombria quando, de forma doentia, faz de Melody uma meta sexual repugnante.
O Brasil está doente e não é de hoje. A sociedade desmorona e a hipocrisia atinge o seu ápice. Temos um país em pedaços e, provavelmente, não há conserto para isso.