Coluna do Branco
Os primeiros estudos de viabilidade de aproveitamento hidroelétrico do rio Tocantins, o 25º maior do mundo, um dos principais afluentes do rio Amazonas, iniciou em 1957, quando o governo federal começou a implantação de políticas públicas para o processo de desenvolvimento e integração da região amazônica com o resto do país e economicamente com o mundo. Para as recentes indústrias que chegavam, estavam as de produção de alumínio, que requer muita energia, em sua cadeia de transformação da bauxita-alumina- alumínio.
Dessa forma começava a surgir no rio Tocantins a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, que seria e ainda é (com Belo Monte pronto, perderá tal título) a maior usina em produção de energia genuinamente brasileira, pois Itaipu é binacional. O Brasil divide com o Paraguai a geração, mesmo aquele país não consumindo 10% de sua cota, revendendo ao Brasil o excedente de produção.
No final de 1984 a Usina de Tucuruí foi inaugurada, passando a gerar mais de 8000 MW de energia firme. Em seu projeto de construção e seguindo o que determina o código de águas do país, estava a construção das eclusas, que fariam o transporte de embarcações entre os mais de 70 metros dos desníveis de montante à jusante da usina, a maior do país neste quesito. Desta forma a navegabilidade no rio Tocantins não estaria comprometida, pelo contrário, com o enchimento do lago, as corredeiras à montante seriam solucionadas com o aumento do nível do rio. Os elevadores gigantes completariam a transposição. A hidrovia Araguaia-Tocantins seria um grande e importante corredor de expansão econômico do Pará e estado vizinho.
Mas como muitas obras no Brasil são planejadas e terminam sendo entregues de outro jeito, as eclusas por justificativas de falta de orçamento (mesmo a usina custando oito vezes mais do que o projeto inicial), as eclusas ficaram na promessa, na retórica governamental. Ou seja, a governabilidade no rio Tocantins que já estava comprometida pelas questões naturais, agora continuaria pelo paredão de concreto de 80 metros de altura, erguido pelo homem.
Só em 2004 que as obras de conclusão das eclusas foram reiniciadas, sendo inauguradas em 2010. Na ocasião o então presidente Lula veio a Tucuruí com uma grande comitiva, composta de ministros de Estado, governadores, senadores, deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores da região, além de presidentes e diretores da Eletrobrás e Eletronorte. Percorreram o lago e fizeram a travessia nos canais da eclusa em uma hora. Pensava-se que a divida do governo federal com a região estava em parte resolvida. Ledo engano, as eclusas não estão operando, praticamente funcionaram para a ocasião de sua inauguração e para servir ao marketing e propaganda do governo ( no período citado da inauguração o então presidente Lula estava nos últimos momentos de seu mandato e passaria a faixa presidencial a recém-eleita Dilma Rousseff).
A navegabilidade do rio Tocantins não depende só da transposição da usina. O famoso Pedral do Lourenço, trecho de 43 km de rochas que impedem a navegação, sem a remoção desse obstáculo natural, as eclusas continuarão não sendo utilizadas ou – pelo menos – subutilizadas, já que a navegação não consegue transpor o referido obstáculo natural. A obra já foi prometida por diversos governos. Não avança para além do processo licitatório. Na prática não existe.
Economicamente quanto o Pará perde por não viabilizar essa obra estratégica ao desenvolvimento do estado? Com certeza bilhões já podem ser contabilizados. Assim como a Alpa (Aços e Laminados do Pará – assunto que já abordei em minha coluna semanal e em meu blog), diversas outras obras de infraestrutura que não se tornam realidade. As eclusas de Tucuruí operando, não passam de mais um sonho, mais uma retórica desenvolvimentista que se promete para a região, um desejo amazônico, que vai se perdendo no tempo. Até quando?
Prof. Henrique BRANCO – Licenciado em geografia com pós-graduação a nível de especialização em Geografia da Amazônia – Sociedade e gestão de recursos naturais. Professor que atua nas redes de ensino público e particular de Parauapebas. Assina diariamente o “Blog do Branco”www.henriquembranco.blogspot.com além de jornal e sites da referida cidade.
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