A maior parte das culturas agrícolas produzidas por comunidades localizadas na região do entorno de Carajás, no sudeste do Pará, depende da polinização de animais. A árvore cinzeiro (nome científico Erisma uncinatum) é a que apresenta maior capacidade de estoque de carbono, fundamental no combate ao aquecimento global. Esses são apenas alguns dos dados revelados pelo livro “Capital Natural das Florestas de Carajás, que será lançado nesta sexta-feira, 10, durante a programação do Congresso de Gestão do Conhecimento e Sociobiodiversidade das Áreas Protegidas de Carajás (CGBio), que está sendo realizado em Parauapebas. A publicação pioneira, que nasceu de uma pesquisa desenvolvida no Instituto Tecnológico Vale, reúne informações de grande relevância, frutos da atividade em campo e de estudos realizados por 60 pesquisadores e colaboradores ao longo dos últimos cinco anos em Carajás.

“Este livro é muito oportuno para o presente momento, no qual a biodiversidade amazônica, o capital natural e a bioeconomia surgem com vigor nas discussões políticas globais e nas projeções para o uso sustentável e conservação da região”, diz a professora emérita da Universidade de São Paulo (USP), ex-pesquisadora do ITV e referência brasileira em ciência, Dra. Vera Lucia Imperatriz Fonseca.
São 27 capítulos que trazem informações inéditas sobre as funções ecológicas que mantêm a floresta, os benefícios da floresta para o bem-estar humano e as contribuições para conservação e mitigações das mudanças globais. “É a primeira vez que uma área florestal amazônica preservada é estudada sob vários aspectos, do estoque de carbono, da fauna e da flora.”, ressalta Vera. A publicação tem a parceria do Museu Emilio Goeldi e reúne autores de instituições diferentes, incluindo universidades, institutos de pesquisa, órgãos públicos e empresas.
Capital Natural
Mas o que seria o capital natural que dá nome ao livro? O Diretor Científico do ITV, Guilherme Oliveira, explica que capital natural engloba a riqueza dos recursos naturais somados aos benefícios essenciais para a humanidade que esses recursos proporcionam. “É termos uma visão da natureza para si mesma como a diversidade e a interação das espécies e ao mesmo tempo uma visão e o valor da natureza para as pessoas como a proteção das águas e seu efeito no fluxo dos rios, a regulação do clima, a polinização agrícola, o uso das árvores para alimentação e medicina e o estoque de carbono”, diz Guilherme.
A pesquisadora Tereza Cristina Giannini enfatiza a importância do trabalho pioneiro. “Esse é o primeiro levantamento desse tipo feito para uma floresta tropical dentro do Bioma Amazônico. Uma das principais contribuições do projeto foi definir uma metodologia inédita para avaliar esse estoque de recursos baseada, em grande parte, em dados de campo. E a outra é o aprofundamento do conhecimento sobre a natureza presente na região, já que foram quase cinco anos de coletas de dados sobre biodiversidade”.
Outra contribuição está em evidenciar que o bem-estar humano depende dos benefícios diretos e indiretos que esses estoques ambientais e suas interrelações trazem para a humanidade e o quão importante é essa área preservada. A publicação não deixa de ser também um convite. “É algo chave para refinarmos ações de conservação da natureza de maneira sustentável, provocar construções de governança participativa e também inclusão, ao trazer as pessoas para efetivamente participarem do protagonismo coletivo de um maior equilibro com a natureza”, conclui Valéria Tavares, pesquisadora e líder do grupo Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos do Instituto Tecnológico Vale.
A Floresta Nacional de Carajás é protegida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) com a parceria da Vale. A área continua conservada há mais de 40 anos. Na unidade de proteção ambiental cujo uso é sustentável em que são permitidas outras atividades econômicas, são operadas pela Vale também as unidades de mineração Carajás Serra Norte e Serra Sul e também atividade de coleta de sementes e extração do jaborandi realizadas pela Coex. A Flona compõe o conjunto de unidades de conservação de Carajás, que se estende por 800 mil hectares, maior área de floresta contínua do sul e sudeste do Pará, equivalente a 7,5 vezes o tamanho da cidade de Belém.
O livro “Capital Natural das Florestas de Carajás” também já foi lançado no Congresso Nacional de Botânica, que aconteceu no campus da Universidade Federal do Pará, em Belém, no período de 29 de outubro a 4 de novembro deste ano. A Floresta Nacional de Carajás segundo o Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade do ICMBio, está entre as 10 unidades de conservação mais pesquisadas no Brasil. Várias estudos permanecem sendo realizados na unidade pelo ITV.