Herbário de Carajás abriga 16 mil espécies de plantas e ajuda na conservação da Amazônia

Mais de 16 mil espécimes da flora amazônica têm seus registros preservados em arquivo de grande relevância para a natureza. No Herbário de Carajás (HCJS), localizado em Parauapebas, no sudeste paraense, estão catalogadas as milhares plantas presentes nessa região, diferenciada também por abrigar a maior mina a céu aberto do mundo. Sob responsabilidade da Vale, o local é fonte para a pesquisa científica, ampliação do conhecimento da população e para ações que garantem a sua conservação no meio ambiente.

No espaço é feita a identificação da espécie com base em registros anteriores, previamente confirmados por especialistas em cada um dos grupos de plantas. No mundo da botânica, esses registros são chamados de exsicatas e funcionam como se fossem as certidões emitidas por um cartório. O documento reúne amostras de ramos e informações da espécie coletada em campo, escolhidas pela representatividade das características de sua matriz. Os registros documentam, por exemplo, as plantas de canga, vegetação típica de solo rico em minério de ferro, com algumas espécies presentes apenas nessas formações, como a Flor de Carajás.

O local foi criado pela Vale em 1987, mas os primeiros estudos da flora de Carajás são anteriores, datam de 1969, com coletas de expedições lideradas pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, com sede em Belém, dois anos após a descoberta da província mineral de Carajás e quase duas décadas antes do início do projeto Grande Carajás pela Vale. Atualmente, o Herbário está indexado pelo The New York Botanical Garden (Jardim Botânico de Nova York) e faz parte da Rede Brasileira de Herbários e da rota internacional de pesquisa científica. Ele e o Herbário Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM) são os únicos da mesorregião sudeste do Pará.

Curador desse grande cartório da natureza, o botânico Lourival Tyski, explica sobre a importância desse espaço. “Dentro de um contexto científico, é papel do herbário arquivar dados que possibilitem a correta identificação das espécies, permitindo o desenvolvimento de estudos relacionados à ocorrência, distribuição, floração e frutificação, germinação, cultivo e seus possíveis usos e aplicações. Além disso, a partir desse espaço, é possível também conhecer interações ecológicas, e promover o desenvolvimento de novas alternativas de recuperação e restauração de ambientes e de conservação”, ressalta Tyski.

Em Carajás, o Herbário fica dentro do Bioparque Vale Amazônia. Ao lado dele funciona a sede do Plano de Gestão da Biodiversidade de Carajás (PBGIO). “O Plano tem como foco a catalogação de dados e o direcionamento de pesquisas, assim como a gestão das atividades da empresa em relação à diversidade biológica e tem o objetivo de conciliar a exploração mineral com a conservação da natureza, sem perda liquida de biodiversidade”, destaca o gerente Geral de Estudos de Longo Prazo da Vale, Iuri Brandi.

Acervo validado por especialistas

Além de referências anteriores das espécies, especialistas brasileiros são convidados pela Vale, mantenedora do Herbário, também para a identificação, correção e atualização dos nomes das espécies do acervo. Em 2023, os botânicos Haroldo Cavalcante de Lima, especialista em leguminosas, plantas como o feijão e o Pau-brasil; Cláudio Nicoletti de Fraga, especialista em orquídeas e Julia Meirelles, especialista da família Melastomataceae, como a quaresmeira, estiveram no herbário para revisão de amostras botânicas.

“O Herbário de Carajás é importante por documentar a flora local e constituir um acervo, como se fosse uma biblioteca de livros de páginas soltas, cada página conta uma história de uma determinada planta, de um determinado momento. Então, o acervo de um herbário é atemporal. E é muito curioso, aqui no Herbário de Carajás, que a gente vê isso, porque existem amostras que foram coletas a 10, 15 anos atrás e amostras que a equipe traz do campo hoje, me mostrando ela ainda viva. A gestão dessa informação é extremamente importante, tanto para a tomada de decisão científica quanto empresarial”, ressalta o especialista Cláudio Nicoletti Fraga.

Registro fotográfico em campo, em 2023, da flor símbolo da região, a Flor-de-Carajás. A flor foi descrita pelo botânico dos Estados Unidos, Daniel Austin, ainda em 1969, dando à planta o nome Ipomoea cavalcantei, em homenagem ao coletor Paulo Cavalcante, que realizou a primeira expedição em Carajás, na época, liderada pelo Museu Emilio Goeldi, uma das mais antigas e respeitadas instituições de pesquisa da botânica do Brasil. Essas coletas compõem uma fonte primária de conhecimento que contribuiu para que a planta fosse conhecida e preservada, alvo de muitos estudos até hoje, com planos de manejo junto ao órgão ambiental e ações de conservação paralelas ao avanço da mineração.

Imensa variedade

Em termos de espécies, a grande maioria presente no Herbário de Carajás é, principalmente, do conjunto das Unidades de Conservação de Carajás, que abrange mais de 800 mil hectares de floresta amazônica protegidos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) com o apoio da mineradora Vale e áreas do entorno, constituindo 61% do acervo. Cerca de 38% do acervo, o que envolve 5 mil registros vêm de áreas de fora do mosaico, principalmente da região da Bacia do Rio Araguaia e somente cerca de 1% é oriundo de coletas de fora do Estado.

As três famílias mais abundantes no acervo são as Leguminosae, como o feijão, seguido pela Poaceae, a exemplo, do arroz e do milho e as Cyperaceae, conhecidas popularmente como tiriricas. No Herbário de Carajás, está também o registro da diversidade da canga. “O herbário também é considerado o maior acervo da diversidade florística da região sudeste do Pará, principalmente para as espécies dos campos rupestres ferruginosos, consolidando o conhecimento sobre a ocorrência de diversas espécies e seus dados de distribuição e, dessa forma, contribuindo para a conservação dessa diversidade”, destaca o Diretor Científico do Instituto Tecnológico (ITV), Guilherme Oliveira.

Como é feita a exsicata

Após coletado, o ramo da planta é prensado, desidratado, catalogado e guardado com delicadeza em sua forma, garantindo a permanência na exsicata, das características que, no futuro, possibilitarão o seu uso para a identificação por comparação com outras plantas. Junto, o documento registra seus dados botânicos, nome do coletor, data e local da coleta, entre outros atributos. Em condições ideais, esse acervo pode ser mantido por séculos, a exemplo do Herbário do Museu Nacional de História Natural de Paris, fundado em 1635 e que conta com um acervo de mais de oito milhões de exsicatas.

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