Preservar a biodiversidade da fauna amazônica começa com o cuidado integral com a saúde e o bem-estar dos animais, principalmente daqueles que estão sob cuidados humanos. Um exemplo de atuação que contribui para manter a integridade das espécies no sudeste paraense é o trabalho de enriquecimento ambiental realizado pelo BioParque Vale Amazônia.
Instalado no coração da Floresta Nacional de Carajás, em Parauapebas (PA), o espaço tem como objetivo promover a conservação e reprodução das espécies, além de contribuir para a educação ambiental das comunidades na região. O enriquecimento ambiental é apenas uma das frentes de atuação do BioParque e visa auxiliar na recuperação e no fortalecimento da saúde de espécies que sofreram danos ou que foram mantidas em cativeiro por tempo prolongado. Trata-se de uma técnica que estimula os animais a realizarem novamente seus comportamentos naturais e sentidos instintivos.
“O enriquecimento ambiental é um trabalho contínuo desenvolvido aqui no BioParque onde técnicas são aplicadas a todas as espécies, incluindo as que estão em tratamento médico. Naquelas em que são identificados desvios comportamentais, os enriquecimentos também são aplicados e reforçados diariamente. A finalidade é reduzir comportamentos de estresse e melhorar a saúde dos animais de maneira integral”, explica Raphaela Moraes, gestora do Bioparque.
Os animais que hoje estão nos recintos do BioParque e participam do trabalho de enriquecimento ambiental têm origens distintas. Algumas espécies são encaminhadas por outras instituições. Outras foram resgatadas em apreensões ou vieram de diferentes programas de reprodução de espécies ameaçadas de extinção.
Estímulos cognitivos, sociais, alimentares e ambientais que buscam reproduzir o ambiente mais próximo do habitat natural, por exemplo, são alguns dos métodos aplicados no dia a dia dos cuidados com as espécies. Essa metodologia utiliza materiais específicos como bolas, comedouros etc., além de frutas e outros objetos vindos da própria floresta. Troncos e galhos secos são utilizados como poleiros, tocas, abrigos, ninhos, a depender da espécie. Durante o período reprodutivo, por exemplo, para diferentes espécies são oferecidos galhos verdes e secos para que os animais selecionem o material para construção dos seus
ninhos. Já bolas de diferentes tamanhos são utilizadas para promover maior atividade física dos animais.
“Diversos itens podem ser utilizados para enriquecimento, além de elementos naturais como frutas nativas, palhas, entre outros. Há itens que antes seriam descartados, por desgaste do material, e reaproveitamos nesse processo, como mangueiras utilizadas pelas brigadas dos bombeiros. Os enriquecimentos são especialmente benéficos para animais pouco ativos, pois promovem a realização de atividades físicas, contribuindo para o bem-estar dos animais”, conta Vanessa Teixeira, bióloga e analista de meio ambiente do BioParque.
As primeiras espécies que passaram por esse processo no BioParque foram primatas, felinos e canídeos. Hoje, todos os animais que estão nos recintos passam pelo enriquecimento ambiental. Os grandes felinos, como as onças-pintadas, estão entre aqueles que mais se destacam na interação com os objetos. "A Ruana, um dos indivíduos de onça-pintada nascidos aqui no BioParque, hoje com 2 anos de idade, demonstra grande interesse nas bolas que utilizamos. Ela interage com esses itens no recinto, joga na água durante a manhã e as leva para áreas de cambiamento, que são áreas para onde os animais são levados e onde os tratadores podem acessar os recintos com maior segurança, no final do dia”, diz Vanessa.
E, para dar atenção a todos os animais nessas atividades minuciosas, o BioParque envolve uma equipe multidisciplinar composta por um veterinário, biólogos e especialistas que fazem do bem-estar dos animais sua motivação diária.
“O BioParque conta com 13 profissionais, entre tratadores de animais, biólogos e dois veterinários atuando diariamente com os enriquecimentos. Eles fazem o planejamento e acompanhamento da aplicação, acompanhando os comportamentos e realizando os
ajustes que forem necessários. O enriquecimento ambiental faz parte da rotina dos tratadores que aplicam, desde atividades simples, como a diversificação na forma de oferecer alimentação, até enriquecimentos mais complexos, como troncos de árvores
furados e preenchidos com mel, além de gravetos de diferentes tamanhos e espessuras espalhados, por exemplo, no recinto dos macacos-pregos, da espécie Sapajus apella. Essas práticas estimulam o comportamento de utilização de ferramentas para obtenção de alimentos e promovem a interação entre os animais do grupo”, explica Vanessa.