Crise fecha 8 mil empresas no Pará

 

Os equívocos na política macroeconômica cometidos pelo atual governo federal estão levando o Brasil à pior recessão dos últimos 25 anos. Um dos principais reflexos desse quadro podem ser constatados no levantamento da Secretaria da Micro e Pequena Empresa (SMPE), com base nos cadastros das Juntas Comerciais de todos os Estados brasileiros. Nunca antes na história deste País se fecharam tantas empresas. No Pará, no ano passado, foram fechadas mais de 8 mil empresas somente entre janeiro e outubro do ano passado. Pela análise, no mesmo período, o número de firmas que encerraram as atividades no Brasil, 302,7 mil, se aproxima do volume das que abriram: 388,5 mil.

No Pará, esse quadro é ainda mais preocupante. O número de empresas extintas no mesmo período já supera o total das que foram abertas. Foram 8.080 empresas fechadas ante 7.806 constituídas. No último mês analisado, por exemplo, a Junta Comercial do Estado do Pará (Jucepa) contabilizou 708 novos empreendimentos e o desligamento de outros 737.

Pelos dados das Juntas Comerciais, o Pará é o 10º Estado com mais empresas fechadas em 2015. Na comparação entre as empresas, abertas o Estado figura na 13ª posição. Para efeito de comparação, há 15 anos, quando a pesquisa começou, a diferença era bem maior. Para cada empresa que fechava no Pará, quase 12 iniciavam atividades. No Brasil, essa proporção era de uma empresa encerrada e para cinco novas.

O ex-secretário-executivo da SMPE, José Constantino de Bastos Júnior, minimizou o aumento do fechamento de empresas. “É preciso olhar esses dados com cuidado, porque, desde agosto de 2014, com a Lei Complementar nº 147, ficou mais fácil fechar uma empresa. Havia um represamento de mais de 1 milhão de firmas inativas”. Ele destaca que a categoria de microempreendedor individual, na qual se concentra a regularização dos que estão na informalidade, tem cerca de 100 mil adesões por mês no País. Mas reconhece que o fraco crescimento da economia “tem reflexo nos dados de abertura e de fechamento de empresa”, que pioraram.

Mas, para o economista Bruno Fernandes, da Confederação Nacional do Comércio e Serviços (CNC), “esses números apontam o pior cenário econômico para o setor (comércio) desde 2003. Para o micro e pequeno empresário, o quadro atual é extremamente desfavorável. A inflação está batendo fortemente à porta, o custo da mão de obra só aumenta e o custo do imóvel também é muito caro. Ou seja, os gastos dos empresários estão cada vez mais altos, enquanto as suas receitas ficam a cada dia mais escassas pela queda do consumo. O que vem acontecendo é justamente isso: o micro e pequeno empresário não consegue sobreviver nesse cenário econômico”, avalia

EMPREGO

O comércio paraense eliminou 1.263 postos de trabalho formal (84.796 admissões contra 86.059 desligamentos), segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Em 2014, os resultados já apontavam os primeiros sinais da atual crise econômica, no entanto, o quadro era um pouco melhor: uma companhia fechava no Estado para cada duas que abriam. No geral, foram 10.381 aberturas no ano anterior contra 4.733 encerramentos. O saldo de empregos na época foi de menos 789 empregos formais no setor.

Bruno Fernandes, da CNC, com base nos registros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Caged, aponta a redução de 95,4 mil lojas com vínculo empregatício em 2015 – redução de 13,4% em relação ao ano de 2014. No Pará, essa queda é de 6%. Ele ainda lembra outra pesquisa mais recentes da CNC, que indica uma acentuada insatisfação da população paraense com a atual situação econômica do País. Esse pessimismo, inclusive, levou os indicadores de intenção de consumo das famílias do Estado às médias mais baixas dentre todos os levantamentos já feitos pela entidade.

“E isso é ainda mais sentido nas empresas dos setores relacionados aos bens duráveis, muito afetadas pela falta do crédito. Então, as famílias tiveram a perda do poder de compra, o orçamento hoje é menor para consumo e as primeiras coisas que são cortadas no orçamento familiar são os bens que não são obrigatórios. As pessoas não vão deixar de comer porque elas estão com uma renda menor. Mas vão deixar de comprar um fogão, uma geladeira porque estão com uma renda menor”, avalia Fernandes.

O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Belém, Álvaro Cordoval, reforça que as vendas estão em queda desde o início do ano passado. No último Natal, caíram de 15% a 30%, dependendo do ramo, em relação ao mesmo período do ano anterior. “A tendência, infelizmente, é que esse quadro se agrave no decorrer deste ano. A medida que essas empresas vão fechando, aumenta o desemprego, e a sociedade busca se precaver. Mesmo quem está trabalhando, está vendo o irmão, o vizinho, o amigo desempregado, consequentemente, ele não quer mais assumir compromissos. Sem vendas, são mais empresas fechando”, lamenta.

Reportagem: Thiago Vilarins – Da Sucursal

 

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