Colonos mantém bloqueio ao projeto S11D

Os manifestantes montaram acampamento na estrada e dizem que só saem do local quando obtiverem resposta da Vale

Cerca de 1.500 colonos de seis acampamentos localizados no entorno de projetos da Vale interditam desde as 4 horas desta segunda-feira (22) o acesso ao projeto S11D, em Canaã dos Carajás. O bloqueio, que segundo os manifestantes é por tempo indeterminado, tem por objetivo forçar a mineradora a discutir com eles a situação de cada área ocupada, assim como cobrar a indenização pelas plantações que teriam sido destruídas, no início deste mês, durante o processo de reintegração de posse do acampamento Grotão do Mutum, que fica na Fazenda São Luiz, em Canaã dos Carajás.

Os manifestantes montaram acampamento na estrada e dizem que só saem do local quando obtiverem resposta da Vale e também do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), já que eles cobram do instituto que o Terra Legal faça o levantamento das terras que estão no entorno de projetos minerais, para saber se têm ou não título de posse. Eles alegam que a maioria das áreas é terra da União e foi adquirida de forma irregular pela mineradora.

Na pauta de reivindicação, os colonos querem ainda que o Incra libere de imediato cestas básicas para as famílias acampadas; que o prefeito de Canaã dos Carajás resolva o problema das famílias sem moradia, retiradas de uma área que ocupavam na cidade; e que o juiz de Canaã reveja sua decisão a favor da Vale, que levou a desocupação da área Grotão do Mutum.

Segundo Paulo Pereira, um dos representantes dos colonos, tudo o que eles querem é ter uma terra para plantar e sustentar suas famílias. Ele diz que a desocupação do Grotão do Mutum foi muito violenta e difícil para as famílias verem o que haviam plantado ser destruído.

Ele garante que em torno de 100 hectares de roças com arroz, feijão, milho, mandioca, abóbora, mamão, maracujá e hortaliças foram destruídos. “Por conta disso, estamos aqui lutando pelos nossos direitos”, ressalta Paulo Pereira, dizendo que nem o município de Canaã, nem o Estado e nem o Incra têm dado a devida atenção aos problemas que estão acontecendo no campo.

“Há seis meses que o Incra nos garantiu que ia fazer a medição da área do Grotão do Mutum para ver o que era terra titulada e da União, mas até hoje isso não aconteceu”, protesta, dizendo que a manifestação que estão fazendo é de forma pacífica e tem por único objetivo lutar por um pedaço de terra para plantar.

Acusação

As áreas de acampamentos são: Grotão do Mutum, Planalto Serra Dourada, Açaizal, Cristalino, Sossego e Axixá. Acompanhando a situação dos acampados na região, o sociólogo e pesquisador especialista em conflitos na Amazônia, Raimundo da Cruz Neto, diz que desde 2000 que a mineradora Vale vem se apropriando das terras no município de Canaã dos Carajás.

Segundo ele, de início, a justificativa da empresa era que aquisição seria para a implantação dos projetos Sossego e Níquel do Vermelho, este último até hoje não foi implantado, porque, ressalta, a mineradora comprou o projeto de níquel em Ourilândia do Norte. Depois, se apropriou de mais áreas, agora para implantar o S11D e agregou mais terras ainda para implantar o Projeto Cristalino, em Curionópolis, mas com abrangência também para Canaã.

“Com isso, os homens do campo foram sendo expulsos. É bom ressaltar que a Vale comprou cerca de 150 lotes de agricultores que foram assentados pelo Getat, que agora é o Incra, em 1986 e 86. Com isso, Canaã dos Carajás, que já foi um grande produtor de alimentos, hoje virou importador”, diz o sociólogo.

Ainda de acordo com ele, diante disso, os colonos decidiram ocupar terras que consideram improdutivas. “Até porque, parte das terras que foram tomadas dos colonos foi repassada a fazendeiros. Ou seja, as áreas que eram para estar sendo cultivadas agora servem apenas para criar boi”, destaca.

O que diz a Vale

Em nota, a Vale informa que já está tomando as medidas judiciais cabíveis para desobstrução da via. Confira  a integra do posicionamento da empresa:

“A Vale esclarece que a Justiça Estadual concedeu liminar de reintegração de posse da fazenda São Luiz, de propriedade da Vale, adquirida legalmente em 2013, visando o atendimento do Plano de Compensação Ambiental exigido pelo IBAMA. O imóvel possui um acervo representativo do seu ecossistema de canga, extremamente raro e com atributos específicos tais como espécies nativas, cavernas em formação ferrífera, nascentes de recursos hídricos e sua biodiversidade é de grande importância como local a ser protegido.

A Vale informa que políticas públicas voltadas para a reforma agrária não competem à iniciativa privada. Dentro da sua política de responsabilidade social, a empresa tem mantido o diálogo com o Incra e o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) e realizado diversas ações no município de Canaã voltadas para o fomento da atividade agrícola.

(Tina Santos – CT online )

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