As histórias dos primeiros moradores de Canaã dos Carajás serão uma das atrações do 3º Festival Literário e Artístico do município paraense, o FLACC, que será realizado neste mês de novembro. As memórias dos pioneiros serão apresentadas em contações de histórias para crianças e adolescentes que visitarem o festival nos dias 17 e 18 de novembro. A ação faz parte do projeto “Histórias da Minha Terra”, realizado pelo Ministério do Turismo e patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Quinta 17/11 – 16h
Live na Casa de Cultura com transmissão ao vivo no YouTube da Sapoti Projetos Culturais: YouTube
3º Festival Literário e Artístico (FLAAC), dias 18 e 19/11
No palco Gabriela Silva (Marabá, PA) contadora de histórias com foco em cultura popular, estará acompanhada de Valéria Nascimento Vieira na voz e violão.
Sexta,18
8h15 (palco)/ 10h (auditório) / 11h45 / 14h15 / 17h45 / 18h45 e 20h30 (palco)
Sábado, 19
9h30 e 16h30 (palco); 19h (tenda bolha)
Local: Espaço de Eventos localizado no bairro Parque dos Ipês (ao lado do Bosque Gonzaguinha).
Após o 3º Festival Literário, as histórias de vida dessas personalidades também serão recontadas no ambiente virtual e reunidas em um livro “Histórias da minha terra”, de Daniela Chindler com ilustrações de Camilo Martins. O livro impresso será distribuído gratuitamente para alunos das escolas da rede pública de Canaã dos Carajás. Moradores de outras localidades terão acesso ao PDF que será disponibilizado on line, também gratuitamente.
Todas as famílias têm suas histórias? Onde seus avós e pais nasceram? Por que vieram para o Sudeste do Pará? Quando chegaram em Canaã dos Carajás? Como era a cidade há 30 e 40 anos atrás? O livro “Histórias da minha terra” é um convite para buscar essas lembranças familiares e a memória da cidade. O projeto conta com o patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura
Contar histórias é a mais antiga das artes, mas poucos sabem que para contar boas histórias é preciso, antes de tudo, saber escutar. Quem escuta demonstra curiosidade e interesse pelo outro, alguém que pode Daniela Chindler. “O livro conta histórias de pessoas que foram em direção a um Brasil ainda desconhecido, e nele fizeram um lar. Esses pioneiros trouxeram suas malas repletas de lembranças, costumes e expectativas. As mulheres, os homens, os personagens deste livro são diferentes e iguais a tantos outros brasileiros. Conhecer essas trajetórias nos ajuda a entender o presente”, diz Daniela Chindler.
Tudo começa com a entrevista: os relatos orais que contêm ingredientes poéticos, curiosos e divertidos são adaptados em contos. Algumas dessas histórias serão narradas, pela primeira vez, nos próximos dias 18 e 19 (sexta e sábado), no 3º Festival Literário e Artístico de Canaã dos Carajás (FLAAC), promovido pela Prefeitura Municipal por meio da SEMED – Secretaria Municipal de Educação e da FUNCEL – Fundação de Cultura e Lazer. Serão 10 apresentações. No palco Gabriela Silva (Marabá, PA) contadora de histórias com foco em cultura popular, estará acompanhada de Valéria Nascimento Vieira na voz e violão.
Um bate papo com dois pioneiros de Canaã dos Carajás e a entrevistadora Gabriela Silva acontece na próxima quinta-feira, dia 17 de novembro, às 16h. A live será transmitida pelo canal do Youtube da Sapoti Projetos Culturais.
Link de transmissão: YouTube e também contará com convidados presenciais que estarão em tempo real na Casa de Cultura de Canaã. Os interessados devem se inscrever gratuitamente através do Sympla: Clique aqui
Um projeto de resgate das memórias da cidade de Canaã dos Carajás
Nos anos 1980, quando os pioneiros começaram a chegar na região que viria a se chamar Canaã dos Carajás, eles não poderiam supor que suas aventuras seriam um patrimônio a ser preservado. Esses migrantes trouxeram nas suas malas não apenas lembranças, culturas e costumes, mas também expectativas de encontrar segurança, trabalho e uma nova vida.
Histórias da Minha Terra traz os holofotes para diversos fatos curiosos e também as histórias de personalidades interessantes do local, como as da parteira “Dona Mariquinha” e de Maria das Chagas, a “Chaguinha dos Bolos”, moradoras da Vila Bom Jesus (Vila 13), serão conhecidas pelas novas gerações
Seu José Isidoro, por exemplo, que hoje trabalha no Mercado Municipal, relembra os encontros com onças que cruzavam com ele na região. “O pessoal tinha medo de onça. Tinha não, tem. Quem não tem medo de uma onça, né? Eu mesmo, quando cheguei, nem andando na mata eu queria entrar. (…) Sabe o que o pessoal fazia? Pegava uma palha, amarrava com um cipó grande na cintura e saía estrada afora. A onça pega o de trás, o rabo da palha. Todo mundo fazia assim para andar de noite.”
Jocênia de Souza Lima narra como era a dinâmica da cidade na época em que não havia telefone nas casas. Residente de Canaã desde os anos 1980, ex-funcinária da TELEPARÁ, ela conta um pouco do que testemunhava de sua cabine de telefonista. Adaptamos um relato para o conto “Um anjo na TELEPARÁ”, que fala do reencontro de Valdione e Diomara, irmãos separados na infância.
Antônia Rodrigues de Lima passou a vida vendendo cocada e dela a história “Poço de desejos, lagoa dos milagres” que estará no livro “Histórias da minha terra” e que tem esse lindo final: “O pai cavou e quando foi à tarde, a mãe foi buscar água com as filhas mais velhas. Aquele buraco estava era cheio de água. No futuro a água traria fartura. O pai compraria uma tropa de burros e encheria o paiol de arroz. Isso seria depois. Naquela tarde, ali no barranco, formou-se uma pequena lagoa de três metros só, mas era a coisa mais linda. Podia-se olhar as nuvens brancas lá dentro dele. Parecia um outro céu.” Antônia também é autora e está publicando esse ano seu primeiro livro de poemas “Pedaços de mim”.
Um tema recorrente nos depoimentos é a chegada à Canaã. Dona Severa quando veio com os filhos, não podia deixar seus bichinhos para trás: uma família de porcos e suas galinhas preferidas. “Quando chegou na beira do rio, lá onde pega a balsa, “avoou” minha galizé, a mais bonitinha da turma (…) Aí eu digo: “Agora essa! Ah, essa já se foi!”. Voou na beira do rio, foi embora a bichinha.”, contou. Já Celeste Mendes da Silva Saiu do Goiás, em 1986, ela, o esposo e uma cachorrinha chamada Garota. Na carreta de boi transportavam a cama do casal, mesa, bancos, baú de madeira e uns poucos mantimentos: café, arroz e polvilho. Foram três dias de viagem da cidade de Orizona, no Centro-Oeste, até o CEDERE II, no Pará. A terra que deixaram estava enfraquecida. Deram sorte de comprar terra boa para roçar. O marido trouxe sementes da palmeira indaiá do Goiás para plantar na frente da casa. Aí ficou bonito na beira da estrada, mas quando os porcos saiam do chiqueiro comiam um bocado. Por isso hoje se avistam da estrada só alguns coqueiros, mas o sítio, batizado de Indaiá, segue com o nome. Celeste contou o causo “Fantasma da estrada”.
Para criação da edição, a equipe da Sapoti Projetos Culturais, responsável pela edição da publicação, percorreu a zona urbana e rural do município. Os pesquisadores Mailson Aguiar, morador de Canaã dos Carajás, e Gabriela Silva, de Marabá, foram à Vila de Bom Jesus, ao bairro João Pintinho, Novo Brasil, Novo Paraíso, Liberdade, entre outros. A preocupação é garantir o protagonismo, pois um território não é nada sem quem o viva.
São causos de gentes, bichos e de assombração. Alguns sustos foram desvendados e outros seguem misteriosos até hoje. Até o lobisomem da região Norte, o capelobo, apareceu nas narrativas. Há também aventuras de roça, de rio e de estrada, e até histórias de amor proibido na cidade.
As crianças paraenses terão a oportunidade de encontrar nessas páginas, histórias que lembram a trajetória de seus familiares e, assim, poderão embarcar em uma aventura de conhecimento da sua identidade. A partir de Histórias da Minha Terra, personalidades locais, como a parteira “Dona Mariquinha” e a confeiteira Maria das Chagas, a “Chaguinha dos Bolos”, moradoras da Vila Bom Jesus (Vila 13), serão conhecidas pelas novas gerações. As histórias de família, que mostram que toda casa brasileira tem muito em comum apesar da distância geográfica e temporal.
Muitas histórias pessoais estão entrelaçadas com acontecimentos de Canaã, como os primeiros supermercados, o desaparecimento de uma vila, a criação de escolas, do posto de saúde do município e histórias do garimpo. Registrar essa memória ajuda na preservação do patrimônio imaterial e na construção contínua da história de Canaã dos Carajás. Luíz do Mel “caçava abelhas” no Piauí, quando menino. Depois o dourado do mel foi trocado pelo afã de encontrar o ouro e fazer fortuna no garimpo. Mas a vida que dá voltas e trouxe as abelhas de volta para a vida de Luiz, que é o primeiro apicultor de Canãa dos Carajás.
Luiz, Celeste, Antonia, Jocênia, Edilazir e tantos outros foram testemunhas oculares dos primeiros movimentos da cidade, que chega aos 28 anos. Vieram do Maranhão, de Goiás, do Tocantins, do Ceará, de Alagoas e criaram raízes nessa terra. Hoje, muitos já têm netos e bisnetos.
Sobre a Produtora
A Sapoti Projetos Culturais é uma produtora de conteúdo na área de educação não-formal. A produtora acredita que o conhecimento pode ser construído e compartilhado de forma criativa. Livros, espetáculos, exposições e ações educativas em Museus são formas que a empresa escolheu para contar histórias. Vencedora do edital do Instituto Cultural Vale, é uma empresa do Rio de Janeiro que atua no Brasil todo. A equipe recolheu depoimentos de mais de 35 moradores pioneiros de Canaã dos Carajás, desde 2021, com intuito de produzir um livro infantil.
A autora Daniela Chindler
A curadoria do projeto fica a cargo da escritora e produtora cultural Daniela Chindler, que tem em sua trajetória outras ações realizadas no Norte do país. Daniela foi curadora da programação infantojuvenil da 1ª Bienal do Livro Amazonas, no ano de 2012, é autora do livro “Causos de bichos e de gentes – Histórias do Norte do Mato Grosso” e do espetáculo homônimo que circulou pela cidade de SINOP e municípios vizinhos em 2018. Foi curadora das ações educativas da exposição “Amazônia – Ciclos da Modernidade”, apresentada no CCBB RJ, em 2021 e pesquisou histórias de imigrantes judeus que vieram para a região durante o Ciclo da Borracha. No Pará, Daniela Chindler foi curadora também do projeto “Ô, Abre a Roda!”, que contou com 18 apresentações de teatro gratuitas nas cidades de Marabá e Parauapebas, no primeiro semestre de 2022. Daniela Chindler é autora de livros infantis premiados como “Bibliotecas do Mundo” (2012) que recebeu o prêmio Malba Tahan de Melhor livro informativo do ano para crianças e jovens pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Trabalha há anos com projetos de patrimônio cultural, identidade e memória.
O Ilustrador
Camilo Martins é graduado em gravura pela Escola de Belas Artes da UFRJ em 2017, nesse mesmo ano foi selecionado para representar o Brasil na Bienal Internacional de Ilustração da Bratislava. Em 2018 publicou o livro ilustrado para crianças e jovens, “Bandele”. Desde então já ilustrou mais de 15 livros infantojuvenis. OS títulos “Em Busca do Mar” e “Lila em Moçambique” receberam Selo Cátedra 10 UNESCO. Em 2019 foi convidado para trabalhar como designer de estampas na marca A Fábula, e até hoje ilustro estampas para diversas marcas de roupas infantis e adultas.
Histórias da Minha Terra no FLACC
Neste mês novembro, acontecerá no Espaço de Eventos o 3º Festival Literário e Artístico de Canaã dos Carajás (FLAAC), realizado pela Prefeitura Municipal por meio da SEMED – Secretaria Municipal de Educação e da FUNCEL – Fundação de Cultura e Lazer. Alguns causos recolhidos pelo projeto Histórias da Minha Terra serão apresentados no festival em apresentações de contação de histórias. Serão 10 apresentações, distribuídas nos dias 18 e 19 de novembro. No palco Gabriela Silva (Marabá, PA) contadora de histórias com foco em cultura popular, estará acompanhada de Valéria Nascimento Vieira na voz e violão.
Lançamentos do projeto
Quinta 17/11 – 16h
Live na Casa de Cultura de Canaã: transmitida pelo canal do Youtube da Sapoti Projetos Culturais. Os interessados devem se inscrever gratuitamente através do Sympla: Clique aqui
3º Festival Literário e Artístico (FLAAC), dias 18 e 19/11
No palco Gabriela Silva (Marabá, PA) contadora de histórias com foco em cultura popular, estará acompanhada de Valéria Nascimento Vieira na voz e violão.
Sexta,18
8h15 (palco)/ 10h (auditório) / 11h45 / 14h15 / 17h45 / 18h45 e 20h30 (palco)
Sábado, 19
9h30 e 16h30 (palco); 19h (tenda bolha)
Compõem a equipe do projeto também
Assistente de Produção
Helena Barsted Young (Rio de Janeiro, RJ)
Formada em Licenciatura em Ciências Sociais e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia & Antropologia UFRJ. Atua como antropóloga com foco em etnografia e produtora cultural, compondo a equipe da Sapoti Projetos Culturais.
Entrevistadores
Mailson Aguiar (Canaã dos Carajás, PA)
Bacharel em Relações Internacionais, com especialização em Políticas Públicas para Igualdade na América Latina, e mestrando no Programa de Desenvolvimento Humano da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.
Gabriela Silva (Marabá, PA)
Contadora de histórias com foco em cultura popular, graduada em Letras na Unifesspa, especialista em Contação de Histórias pela ESAMAZ, Mestre em Letras pela Unifesspa também. Tem um perfil literário no Instagram @Conta, Gabi. Tem o canal no YouTube “Conta, Gabi”. Tem um perfil literário no Tiktok cujo nome é “Toca da Matinta”. Faz parte do Movimento de contadoras e contadores de histórias da Amazônia.
Filmagens
Carlos André (Marabá, PA)
Formando em Letras, com Especialização em Gestão Pública e mestrado em Letras. Autor do documentário “A Festa do Divino: do Sagrado ao cotidiano”, Produtor, editor e apresentador, na RBATV e, posteriormente, na TV Eldorado SBT. Professor de Língua Portuguesa da rede municipal de Marabá-PA (2004/07). Atuou nas funções de locutor e apresentador de TV na Rede Brasil Amazônia de Comunicação (2003 a 2016). Autor do livro “O Mistério da Arte” inspirado na cidade de Marabá da década de 1960, o romance apresenta personagens típicos do período dos Ciclos Econômicos da Borracha e Castanha. Atualmente é formador na Secretaria Municipal de Educação de Marabá-PA.