O CEO da Komatsu, Guilherme Santos; e os CEOs da Anglo American, Wilfred Brujin; da Samarco, Rodrigo Vilela; e da Lundin Mining, Ediney Drummond; estiveram reunidos na manhã de ontem, em evento fechado da Amcham de Belo Horizonte, para discutir tecnologia, sustentabilidade e gestão de riscos na área da mineração.
Santos (foto acima) abriu o evento online falando de segurança e contando como a Komatsu, patrocinadora do evento, tem trabalhado em relação ao tema, ressaltando que a experiência tem mostrado que a segurança está muito relacionada à atitude, conhecimento e valor. “Nos últimos anos temos dedicado muito tempo ao treinamento dos nossos profissionais, com envolvimento de suas famílias. Com a adoção do programa Safety Start, no último ano, temos atuado fortemente em itens que normalmente facilitam a ocorrência de acidentes, como pressa, complacência e cansaço. Trabalhar no comportamento das pessoas e treinar os líderes para que tenham segurança como valor faz toda a diferença”, afirma Santos. Drummond, da Lundin Mining, parabenizou o programa da Komatsu, ressaltando que com ele muitos frutos serão colhidos em um segmento que as taxas de acidentes diminuíram, mas os acidentes fatais não, “o que para o setor é um desafio”.
Em relação à sustentabilidade e tecnologia, que envolvem uso de resíduos e economia circular, Brujin, da Anglo American (foto acima), exemplificou que a empresa tem utilizado rejeitos das unidades de minério de ferro e níquel na construção de rodovias. Vilela, da Samarco, lembrou que o desafio do setor é transformar esses resíduos em coprodutos. “Muito esforço tem sido feito no Brasil nesse sentido. O Mining Hub foi criado justamente para se buscar essas alternativas. Ao desenvolver estudos de coprodutos e sua utilização, no nosso caso, vimos que poderíamos, por exemplo, usar resíduos de marmorização no Espírito Santo. Aqui em Minas Gerais os desafios são outros. Mas é um caminho sem volta e a tecnologia vai ser um parceiro nisso”, disse.
“Há muitas tecnologias em desenvolvimento e queremos atrair os jovens para a mineração. Buscamos os mais diversos pensamentos e visões na nossa companhia” (Wilfred Brujin, Anglo American)
Drummond (foto acima) revelou que a Lundin Mining possui autorização do MAPA para uso de rejeito na agricultura. “Já temos resultados a serem avaliados. Nosso produto, usado para remineralização do solo, apresentou uma performance 3% maior em lavouras de milho, soja e sorgo. O próximo passo é desenvolvermos comercialmente esse produto, para nós um grande exemplo de economia circular”, comemorou, citando os 23 milhões de toneladas de rejeito produzido pela empresa em Goiás.
“A Komatsu vai disponibilizar ainda nesta década um caminhão agnóstico, disponível para qualquer tipo de energia que estiver disponível. O cliente é quem vai escolher” (Guilherme Santos, Komatsu)
Tecnologia
Como não poderia deixar de ser, a tecnologia esteve na pauta do encontro e todos ressaltaram o quanto ela tem sido fundamental para o setor. “A inteligência artificial e a internet das coisas são exemplos de sofisticação trazidos para todos os processos. Mas, claro, seja ela qual for, a tecnologia tem de estar atrelada a um planejamento estratégico. Destaco que fomentar a inovação aberta para que possamos transformar resíduos ou usá-los como fertilizante são pontos a serem considerados, assim como buscarmos caminhos para aproveitarmos melhor as reservas que temos produzido gerando menos resíduos. Por fim, o uso da inteligência artificial para nos ajudar na telemetria, algo fundamental para gestão de risco, e como usar tudo isso para fazer uma mineração mais verde, com a redução da emissão de carbono, são outros caminhos muito importantes para o setor”, avaliou Vilela (foto acima).
“Inteligência artificial vai nos ajudar muito. Para se ter uma ideia, com ela já é possível operar de outro estado” (Rodrigo Vilela, Samarco)
Brujin analisou que há 30 anos a atividade da mineração preservava grandes quantidades de terra, com grande preocupação com o ecossistema. Com o passar do tempo, e sem abrir mão disso, o setor caminhou para a economia circular e o próximo passo é como irá contribuir com a descarbonização do planeta. “Este é um ponto que está no centro de todas as pautas do nosso dia a dia. Nós estamos, por exemplo, avaliando como transformar nosso combustível em hidrogênio verde. O Brasil foi escolhido para uso da tecnologia em nossos caminhões. Nossa unidade de minério de ferro, em Minas Gerais, está dando um passo significativo nesse sentido. Na operação de níquel já substituímos o uso de carvão por cavaco. É uma demonstração de que o setor está na vanguarda e querendo, de fato, sair do discurso e ir para a prática por um planeta melhor”, afirmou.
Santos completou que a Komatsu deve colocar à disposição ainda nesta década um caminhão agnóstico, que poderá ser usado com a energia que estiver disponível. “O cliente vai poder escolher”, adiantou. “Está na essência da mineração essa transição energética. Estamos buscando parcerias para uso de energia limpa. Temos iniciativas para eletrificação de frotas. Mas precisamos dos minerais essenciais. O veículo convencional hoje, à combustão, emprega, por exemplo, cerca de 23 quilos de cobre. Um híbrido, 45, e um elétrico, mais de 85. Grandes minas já estão se exaurindo e, por isso, precisamos continuar investindo na mineração”, analisou Drummond.
Outros pontos tratados no encontro
Eletrificação – Seguimos por um caminho muito acelerado. Um desafio para todos ainda são as baterias. Como carregar? “Quando falamos de grandes equipamentos de mineração, o uso será muito maior que hoje. E teremos de ter muito mais profissionais aptos a trabalharem na operação, que não apenas engenheiros elétricos. Vamos chegar em um equilíbrio nos próximos anos, mas isso vai exigir uma visão holística do setor”, ressaltou o CEO da Komatsu.
Imagem do setor – O que o setor vem fazendo para melhorar a imagem? Conforme discutido no evento, tem se trabalhado de forma conjunta no ambiente do Instituto Brasileiro da Mineração (Ibram), com o compartilhamento de boas práticas, ideias e maneiras de evoluir. Dessa forma, consegue-se também dar uma resposta para a sociedade sobre a evolução que o setor vem trazendo em termos de segurança e o quanto está aberto a dialogar de forma muito transparente com a sociedade, uma mudança muito positiva nos últimos anos.
Desafios – Coexistir em áreas onde estão minas e cidades, demonstrar o quanto as operações são sustentáveis e valor à sociedade. A transparência vai se transformar na importante licença social necessária para se operar.
Descarbonização e metas ESG – Migração para uma matriz verde, mais limpa, passa a ser um pilar, reduzindo o consumo de combustíveis fósseis. O setor seguirá utilizando a tecnologia híbrida até que seja possível o uso de uma totalmente limpa. Gestão de dados e de informação unificada, via Ibram, ajudarão nesse processo, com demonstração do que vem ocorrendo, constando em relatórios do setor.
“Está na essência da mineração a transição energética. Estamos buscando parcerias para uso de energia limpa. Mas precisamos dos minerais essenciais e grandes minas já estão se exaurindo. Dessa forma, precisamos continuar investindo na mineração. (Ediney Drummond, Lundin Mining)