Empregados da Vale devem ficar sem participação nos lucros

Preço do minério de ferro afeta empresa, que corta dividendos em 64%

Funcionários da Vale correm o risco de ficar sem a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) referente a 2015. Com a queda no preço das commodities (matérias-primas com cotação global), a empresa não deve atingir a geração de caixa mínima que serve como gatilho para a distribuição da PLR. O assunto já vem sendo tratado em conversas informais entre diretores e gerentes. Caso isso aconteça, será a primeira vez que a empresa terá deixado de pagar o bônus aos empregados. Ontem, a Vale anunciou o corte de US$ 500 milhões na distribuição de dividendos aos acionistas para este ano, o que vai representar uma redução de 64% em relação ao valor pago em 2014.

De acordo com o Sindimina-RJ, um dos 13 sindicatos que representam os trabalhadores da Vale, até 2013, a PLR era calculada com base em metas individuais, de equipes e da empresa. A partir de 2014, foi criado um gatilho que considera o fluxo de caixa operacional da companhia e o gasto em investimentos correntes, ou seja, investimentos para manter as unidades em operação. Com a queda no preço das matérias-primas, especialmente a do minério de ferro (carro-chefe da Vale), a expectativa é que o gatilho não seja atingido.

Se seguida a fórmula à risca, não haverá distribuição de PLR. Mas vamos negociar com a empresa. Os funcionários já contam com essa remuneração, e a PLR é um diferencial da Vale no setor — diz Iran Santos, presidente do Sindimina-RJ.

A Vale confirmou os termos do cálculo, mas não comentou a possibilidade de não pagamento da PLR. Disse que a apuração dos valores “só será feita em fevereiro de 2016”. O pagamento costuma ser em março, sempre em relação ao ano anterior. Em 31 de dezembro de 2014, a Vale provisionou US$ 502 milhões para pagamento da PLR em 2015. A empresa não confirma se o valor foi desembolsado.

O clima entre funcionários, especialmente da área administrativa, é de apreensão. Eles votaram contra a mudança na fórmula da PLR, pois já esperavam oscilação maior nas cotações internacionais. Na ocasião, a maioria dos empregados foi favorável à mudança, que incluía também alteração no teto do número de salários que a empresa paga a título de PLR de seis para sete.

REAJUSTE SALARIAL

Também há incerteza quanto ao reajuste salarial. Pela primeira vez desde 2004, os empregados vão chegar à data-base do dissídio (1º de novembro) sem um acordo fechado. A primeira rodada de negociações será no próximo dia 27, em Belo Horizonte. Os sindicatos propuseram aumento real de 5% — além da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que acumula alta de 9,9% em 12 meses encerrados em setembro. A Vale não revelou sua proposta.

Ontem, a mineradora informou que seu Conselho de Administração aprovou a redução do pagamento da segunda parcela de dividendos aos acionistas em US$ 500 milhões. Com isso, a empresa pagará US$ 1,5 bilhão em dividendos no ano. Em janeiro, havia informado que pagaria US$ 2 bilhões. O pagamento da segunda parcela será feito em 30 de outubro. A primeira parcela, de US$ 1 bilhão, foi paga em 30 de abril. Em 2014, foram pagos US$ 4,2 bilhões.

Para Felipe Reis, analista de mineração do Santander, a redução no pagamento dos dividendos “mostra que a companhia está atenta ao fluxo de caixa mais apertado em 2015”. A Vale tem feito elevados desembolsos para tocar projetos importantes da companhia, como o S11D (expansão do complexo de Carajás, no Pará, orçado em US$ 16 bilhões) e a receita, no momento de queda de preços das commodities, não tem acompanhado a magnitude dos investimentos.

Reis projeta geração de caixa de US$ 1,96 bilhão no terceiro trimestre de 2015, queda de 11% em relação ao segundo trimestre. O preço médio do minério de ferro no mercado spot (à vista) chinês caiu 6% no período, nos cálculos do analista. Os de cobre e níquel caíram 13% e 19%, respectivamente. A Vale divulga o resultado financeiro na próxima semana.

REDUÇÃO DE DIVIDENDOS

A Vale informou, nesta quinta-feira, que o Conselho de Administração da companhia aprovou a redução do pagamento da segunda parcela de dividendos aos acionistas em US$ 500 milhões. Com isso, a empresa vai pagar US$ 1,5 bilhão em dividendos no ano. Em janeiro, a companhia havia informado que pagaria US$ 2 bilhões em 2015.

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O pagamento da segunda parcela será feito em 30 de outubro. A primeira parcela, de US$ 1 bilhão, foi paga em 30 de abril. O valor total de dividendos que será distribuído aos acionistas será 64,2% inferior ao pago em 2014 (US$ 4,2 bilhões).

Para Felipe Reis, analista de mineração do Santander, a redução no pagamento dos dividendos “mostra que a companhia está atenta ao fluxo de caixa mais apertado em 2015”.

A Vale tem feito elevados desembolsos para tocar projetos importantes da companhia e a receita, no momento de queda de preços das commodities, não tem acompanhado a magnitude dos investimentos.

Reportagem Danielle Nogueira

 

 

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