Vale: guerra silenciosa nos bastidores

Coluna do Branco

A mineradora Vale é a terceira maior empresa de mineração do mundo e também a maior produtora de minério de ferro de pelotas e a segunda maior exploradora de níquel do mundo, vive em seus bastidores corporativos uma verdadeira disputa pelo comando da empresa. Murilo Ferreira é o atual presidente, assumiu em 2011, substituindo o agora falecido, Roger Agnelli.

Desde quando a ex-presidente Dilma Rousseff foi afastada, iniciou forte movimento para a possível saída de Ferreira do comando da mineradora. A pressão vem de setores mineiros do PMDB, inclusive com forte lobby pessoalmente junto ao presidente Michel Temer.

As pressões do PMDB, porém, esbarram na oposição de acionistas privados da Vale. O govertem, direta e indiretamente — via BNDESPar e fundos de pensão —, 60,5% da Valepar, holding que controla a Vale. A Bradespar (braço de participações do Bradesco) tem 21,2%, e a japonesa Mitsui, 18,2%. Embora o governo tenha a maioria dos votos, na prática, uma troca de comando depende do aval do Bradesco.

O valor de mercado da Vale já caiu mais que o de suas concorrentes nos últimos anos, pois o contexto político-econômico do país impede uma recuperação mais ágil da empresa. O valor de mercado da Vale caiu mais de 80% desde 2010. Suas concorrentes BHP e Rio Tinto recuaram 67% e 59%, respectivamente. Esses cenários negativos forçam a saída de Murilo Ferreira da presidência da mineradora, não podendo esperar nem o termino de seu atual mandato que se encerrará em abril de 2017.

Segundo fontes próximas à mineradora, Bradesco e Mitsui estão satisfeitos com a gestão de Ferreira e veem com apreensão um provável impacto negativo no mercado de uma nova interferência política no comando da Vale.
Entre as justificativas de afastamento de Murilo estariam a falta de habilidade frente a crise econômica e alguns deslizes gerenciais, como no caso ocorrido em Mariana (MG), desastre ocorrido pelo rompimento de uma das barragens de rejeitos minerais da Samarco, empresa subsidiária da Vale.

O Planalto estaria avaliando nomes como o do ex-diretor da companhia de mineração Tito Martins, hoje na Votorantim Metais, e alternativas internas, como Peter Poppinga, diretor-executivo de Ferrosos, e Luciano Siani, diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores.

O jornal  Folha de São Paulo, que acompanha os desdobramentos dessa guerra nos bastidores, apresenta a ficha dos candidatos em potencial a uma das mais disputadas posições no mundo dos negócios no Brasil:

Tito Martins

Graduado em ciências econômicas pela UFMG, ingressou na Vale em 1985 e, em 1999, assumiu a diretoria de Finanças e Relações com Investidores. Em 2009, tornou-se presidente da Vale no Canadá e foi cotado para a presidência da mineradora no Brasil em 2011, quando Murilo Ferreira foi escolhido. No ano seguinte, deixou a empresa e assumiu a Votorantim Metais

Luciano Siani

Mestre em administração de empresas pela New York University, nos Estados Unidos, o executivo ingressou na Vale em 2008. Em 2012, assumiu o cargo de diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da companhia, posição que ocupa até hoje. Antes da Vale, foi secretário-executivo no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)

Peter Poppinga 

Graduado em geologia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pela Universität Erlangen-Nürnberg, na Alemanha, o executivo assumiu em 2014 a diretoria-executiva de Ferrosos da mineradora brasileira. Desde 2000, ele ocupa cargos de direção na companhia e em suas subsidiárias ao redor do mundo, como em unidades na Bélgica, na Suíça e na Indonésia.

Neste tiroteio de influências nos bastidores de uma das maiores empresas do mundo, os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais parecem monopolizar – com a concordância de São Paulo – as decisões de maior relevância sobre o futuro da mineradora. Os dois entes federativos (o Rio com a sede da empresa e Minas com a central de operação) tornam-se supremos em relação ao que será decido e feito pela Vale. E o Pará, como fica neste processo? Do solo paraense saem 40% do faturamento da empresa. Aqui temos Carajás, a maior província mineral do mundo e com o minério de ferro (carro-chefe do faturamento e volume exportado) de melhor qualidade do planeta e o megaprojeto S11D, a nova “menina dos olhos” da Vale em solo brasileiro. Mas nada disso importa.

Mas como sempre, a Vale paraense só recebe ordens e planos de ação. Não decide nada e passa ao longe das decisões mais importantes da mineradora. Pará continua a confirmar o seu papel de colônia dentro do próprio país. A triste sina da Amazônia continua.

Por.

Henrique Branco

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