Na próxima quarta-feira (10) o município de Parauapebas completa 29 anos de existência depois de ser emancipado de Marabá, em 1988. A também chamada “capital do minério”, apesar da pouca “idade”, possui grande acervo histórico e muitas estórias para contar. Os desbravadores, os primeiros que aqui chegaram e foram fincando, os primeiros esteios de madeira, iniciando a transformação de parte da floresta em um centro urbano, escrevendo mais um capítulo no grande livro do processo de ocupação da região amazônica.
Com o olhar e percepção mais apurada, percebo que a cidade carece de carinho e sentimento de cuidado e zelo pela maioria de sua população. Situação típica de municípios que tem perfil econômico centralizado em apenas uma atividade econômica e que recebe muitos migrantes. O Brasil se encontra em Parauapebas. A maioria das pessoas que aqui chegam tem a ideia e objetivo fixo de “ganhar dinheiro”, enriquecer, fazer o chamado “pé de meia” e depois retornar à cidade de origem. Muitos sabem que o minério extraído das serras que rodeiam a cidade não são infinitas, e deverão ter o seu fim antecipado cada vez mais cedo, pelo aumento recorrente da extração que a Vale a cada ano impõe (em seu mais novo balanço, 1º trimestre de 2017, outro recorde de produção foi batido em Carajás).
Criou-se no senso comum de quem desembarca na cidade que tem que se “tirar tudo que puder” e depois partir. O último que desligue a luz. Assim, a capital do minério vai completando anos e anos sem que essa mentalidade ou postura mude. Hoje após muitos anos de intensa migração, o fluxo de entrada e saída de pessoas diminuiu, ou, pelo menos, estabilizou. Criou-se mais “raiz”. Na geografia estudamos a relação do homem com o seu espaço e as consequências desta. Ensinamos que o espaço é amplo e as relações de afetividade com ele, o tornam lugar, ou seja, um espaço afetivo, exatamente o que falta em Parauapebas. Por isso o maior presente que a cidade de Parauapebas pode receber em seus 29 anos de vida é amor, carinho, zelo e pertencimento, que cada cidadão que aqui reside possa carregar consigo o sentimento de amor a essa terra que muito dar aos que aqui chegam e pouco recebe dos mesmos.
Parauapebas estará completando ano que vem, em 2018, 30 anos, três décadas de existência como município. Nesse período viveu a gangorra da escassez e pujança. Mesmo nos períodos áureos, quando o seu principal produto, o minério de ferro, atingia patamares estratosféricos de cotação no mercado internacional, o que foi feito pela cidade? O volume gigantesco de recursos financeiros que inundavam os cofres da prefeitura foi utilizado em prol do melhoramento da qualidade de vida dos munícipes? O que foi feito para além de infraestrutura urbana mínima, ainda centralizada nos redutos centrais da cidade?
A tendência é que a cotação do minério de ferro oscile de forma sazonal. Dificilmente chegará – pelo menos em curto prazo – acima dos 80 dólares. Ou seja, a tendência é a confirmação de uma nova era, bem diferente dos estratosféricos volumes de royalties que eram pagos ao poder público municipal em um passado recente. Por isso, o debate e criação de alternativas econômicas se faz necessário o mais rápido possível. Em apenas 29 anos (de emancipação política e 32 anos de operação do projeto Carajás) os prognósticos de exaustão das minas de ferro que estão em operação são preocupantes. Que a dádiva natural de abundância de recursos naturais que a região recebeu, tem que ser o instrumento de mudança, de desenvolvimento, de qualidade de vida, de prosperidade.
Que cada parauapebense, fixo ou transitório, possa refletir nesta data, bem próxima de três décadas de existência. O que nos espera no futuro? Ou como mudar o futuro tenebroso? Parabéns Parauapebas, que a menina-cidade possa ser muito mais do que um depósito mineral, encravado no meio da floresta amazônica.
Por.
Henrique Branco