Centros Integrados de Governo: mais um estelionato tucano no Pará?

A disputa eleitoral de 2014 estava acirrada para o governo do Pará. Disputavam dentro da margem de erro das pesquisas o governador Simão Jatene (que buscava a reeleição, o seu terceiro mandato) contra Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho. O referido candidato do PMDB estava com real possibilidade de interromper a dinastia tucana que pendura desde 1994, estancada uma única vez na gestão petista de Ana Júlia (2007-2010).

No auge da disputa, o marketing e a propaganda se digladiavam em seus espaços e tempos de exposição nos meios de comunicação. Na dança dos números e propostas de cada lado, buscavam convencer o eleitor, surgiu – pelo lado tucano – a proposta de criação de Centros Integrados de Governo, em duas importantes cidades: Marabá e Santarém, sudeste e oeste paraense respectivamente. O objetivo é descentralizar a máquina pública estadual, ainda demasiadamente localizada na RMB (Região Metropolitana de Belém) em comparação ao resto do imenso Pará.

A proposta da nova regionalização do território paraense não é nova, as primeiras remontam da década de 1980, quando o Pará ainda era uma grande ilha econômica, com precária conexão entre as suas regiões. No governo do PT a proposta tomou força e começou a sair do papel, do campo das ideias, das pretensões, para a prática, com a criação de arranjos institucionais sobre a proposta, materializada no PTP (Planejamento Territorial Participativo) e que buscaram redefinir as ações dos poderes públicos, governos para com os seus territórios. A incapacidade gerencial, aliada à forte politicagem, sepultou o projeto petista, antes mesmo dos primeiros avanços práticos se consumarem.

Na campanha eleitoral de 2014, o PSDB reativou a proposta de forma diferenciada, com outros arranjos, o debate sobre a regionalização do território paraense, voltava à pauta do debate político. Na questão teórica, os analistas tucanos prepuseram a criação dos chamados centros de governo, medida para descentralizar o governo com novos arranjos institucionais em outras regiões. A proposta vinculada ao projeto de governo na campanha tinha também claramente a função de diminuir a forte rejeição que o então candidato tucano ostentava e ainda ostenta nas regiões sudeste e oeste do Pará, produto do processo de divisão do Pará, ocorrido em 2011 e que o então governador Jatene se colocava contra. Isso quase lhe custou a reeleição em 2014.

Simão Jatene em breve chegará à metade de seu atual mandato, o terceiro e nada ainda saiu do papel. Nem se quer satisfação pública foi dada pelo mandatário da política paraense foi feito. O governo Jatene resolveu desde seu início da atual gestão, utilizar um mantra: “culpa da crise econômica” para justificar a inércia que submeteu o Pará e diminuir as críticas cada vez mais recorrentes.

Qual a garantia que Jatene dará para a sociedade em relação à questão aqui apresentada? O projeto ainda será implantado? Ou será suputado com a justificativa de falta de recursos para a implantação?

Conforme já escrevi por diversas vezes, o Pará já é dividido. Moro em Parauapebas, sudeste paraense, região muito mais ligada ao centro-oeste brasileiro, não só pela proximidade geográfica, mais sim por suas características locais e pela contundente ausência do governo do Estado. Ausência que foi aumentada na atual gestão tucana, retirando do orçamento para o ano corrente volumoso recurso e os colocando na RMB, que consome mais de 50% dos investimentos do Palácio dos Despachos.

Será que os centros de governo foram mais um estelionato tucano no Pará? Com a palavra o governador Simão Robson Jatene.

 

Prof. Henrique BRANCO – Licenciado em geografia com pós-graduação a nível de especialização em Geografia da Amazônia – Sociedade e gestão de recursos naturais. Professor que atua nas redes de ensino público e particular de Parauapebas. Assina diariamente o “Blog do Branco”www.henriquembranco.blogspot.com além de jornal e sites da referida cidade.

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