Uma carta de Jesus

Kleysykennyson Carneiro

Eu sou Jesus. Sim, o próprio. O Verbo que se fez carne, o filho unigênito…
Sou todas essas coisa e você de certo já ouviu falar de mim… Por livros, por filmes, por minisséries, etc. E, claro, pela Bíblia.
Tenho que dizer a vocês… A Bíblia me incomoda.
Não que seja um texto ruim, pelo contrário. É tudo muito bem escrito. O que me incomoda mesmo é essa distorção que ela se tornou com o passar dos séculos e das inumeráveis traduções que sofreu. Isso me incomoda.
Desculpem-me, mas o que os cristão têm feito não é o tipo de coisa que eu preguei na minha passagem por aqui. Eu nunca quis influenciar as decisões de um estado. Um governo precisa ser laico.

Outro dia ouvi, de um certo “mito”, que o Estado não deveria ser laico, mas sim cristão. E o pior de tudo foi ouvir um coro de seguidores gritarem o meu nome lá em baixo, tive ânsia de vômito com aquilo. Não é isso o que eu quero. Por favor, não se chamem “cristãos”, esta palavra deriva de mim e eu, sinceramente, não quero fazer parte desta desorientação de vocês.
Mas eu não os culpo. Eu estou mal representado naquelas páginas. Além do mais, meia dúzia de calhordas ainda distorcem a minha imagem, afim de criar cadeias ideológicas com as minhas palavras. Vocês não são culpados. A gente precisa, inclusive, esclarecer algumas coisas…

Eu não deixei 12 discípulos. Eu deixei milhares, que depois viraram milhões. A Bíblia me fez menor do que eu realmente sou. Eu dividi o tempo. Isso é ser maior do que sou representado no papel.

Eu era negro. E pobre. Meus cabelos eram enrolados e o meu nariz achatado.
Roubei pão algumas vezes, porque só quem já passou fome sabe muito bem o que ela é. Mas eu peguei esse pão e não o comi sozinho; eu dividi.

Eu fui uma espécie de precursor do MST. Afinal, eu fiz o mundo para todos. Não só pra alguns. Invadimos terras de senhores poderosos da época e nos reuníamos para orar, conversar e comer.

Eu era um tipo de Black Bloc, engajado, destemido… E fui o líder mais carismático de todos, por isso milhares me seguiram em vida. Eu dividi o tempo, entende?

Eu aceitei as pessoas como elas são. Afinal, eu e o Pai fizemos cada um que por aqui passou ou ainda vai passar.

Eu também fui homossexual. E entendo o que é ser minoria em meio ao preconceito. Quando eu cheguei aqui, eu vim para todos os tons, eu vim para todas as vidas, para todas as eras…

Eu vim para as pessoas como elas realmente são e por favor, não se choque com o que eu disse; me aceite. Eu sou muito mais do que a sua reles compreensão.

O meu legado foi mostrar ao planeta que as pessoas são diferentes, fazem escolhas diferentes; o que nos resta é o dever de entender e misturar as diferenças.
Pensa que não me incomoda o racismo que eu vejo todos os dias? Ainda dói. Eu tenho marcas na alma das pancadas que sofri.

Eu juntei classes e isso incomodou muita gente. E eu sei que ainda incomoda. As pessoas se dividem, quando deveriam se unir; eu não ensinei isso!

Não se engane! Eu não fui morto por discursar bonito, por afirmar à todos que eu era o próprio Deus. Eu fui um preso político!

Eu fui morto por esse mesmo preconceito que você tem na sua mente. Não me compreenderam antes e acho que ainda não me compreendem.
Senhores cristãos, fascistas, machistas, avarentos, vocês não me representam!

Tirem já essa cruz do peito.

Esse Jesus não sou eu.

Por: Kleysykennyson Carneiro

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