Do outro lado da linha mora alguém que faz cinco anos hoje

Filha,
Não vai demorar muito tempo até você conseguir ler essa coluna que seu pai escreve neste domingo em que você completa cinco anos. Cinco anos são mais de 1500 dias, se não me engano… Seu pai é um fracasso nas exatas e você vai ser bem melhor que eu já nos primeiros anos de ensino fundamental. Não vai demorar muito, pois reconhecer todas as letras, saber como juntá-las e de quais palavras elas são iniciais já é o prelúdio de que você estará alfabetizada em pouco tempo. Não vou me gabar, filha, mas aprendi com quatro. Não é culpa sua, obviamente, você demorou um tanto mais para ir à escola… Talvez pelo medo que sua mãe e eu tínhamos de você cair e se machucar e não ter nenhum de nós lá pra te levantar…

Mas o caso é que a língua escrita (uma das grandes paixões do seu pai, instrumento de trabalho e hobby) daqui a pouco tempo já não será mais um entrave pra você. E isso me emociona.

Me emociona porque esses mais de 1500 dias passaram rápidos demais… Tudo bem… Vou parar com os clichês! Você, como minha filha, vai odiar todos e esse aqui também. Não passaram tão rápido assim, tá? Não foi nada fácil. De 2012 para cá, eu nunca envelheci tanto em tão pouco tempo. O coração de seu pai nunca foi lá tão duro, mas foi amolecendo ainda mais quando te viu andar pela primeira vez, ou dizer “ata”, ou falar “mamãe” e “papai”, ou mandar o Raul obedecer os pais dele com toda a autoridade que uma filha mais velha tem sobre o caçula. Filha, você quebra o seu pai no meio com o seu sorriso e confunde a minha cabeça cheia de problemas com as suas perguntas mais embaraçosas… “A professora disse que é errado isso, por que você está fazendo, hein?” Ah, filha… Eu não sei bem o porquê, mas amo todos os seus porquês… Vai entender.

Pensa que eu me irrito quando você me tira do sério? Bom, me irrito sim! Mas isso passa logo, porque quem você ama nesse seu coraçãozinho pequeno é alvo de cada carinho da sua alma e isso não tem preço.

Filha, vale dizer aqui que você infla o meu ego, né? Por que eu sou o melhor em tudo para você? A comida está sempre boa, o banho sempre bem dado, a pedra arremessada mais longe te impressiona… E isso mexe com o meu ego, é claro.

Amei quando você, com tanta inteligência e já conhecedora das letras, remexeu e descobriu (e mostrou pro seu irmão) a coleção de Harry Potter do seu pai e não passou um dia sem falar “Professor Dumbledore” “Harry”, “Hermione”, ou “Rony” por aí… Quanto orgulho… Amei quando você se apaixonou por “Stranger Things”, “The Walking Dead”, quis saber quem era “Jon Snow” e quando perguntou onde ficava a “Estrada de Tijolos Amarelos”.
Mas eu amo também, filha, quando você vem me falar sobre as novos desenhos que descobriu… Das travessuras da Emília, da nova Barbie, da Ladybug… Algum leitor sabe quem é Ladybug? Bom, eu sei porque você me ensinou, filha.

Não vejo a hora de te ver cantando Marisa, Ariana e Marília… Eu sei, eu sei… É errado isso de um pai enxergar seus sonhos através dos filhos, mas ouvir a sua voz, filha, cantando, é algo lindo demais, vivo demais e que você até gosta de fazer pra mim… Já canta até Caetano, né? Gosto muito de você, leãozinho… Só pra você saber…

E dói, filha, e dói te ver do outro lado da tela algumas vezes por semana… Seus pais não moram juntos, tá? Obrigado por entender e a distância obriga a gente a usar os artifícios da tecnologia pra se comunicar. Só sei que do outro da linha mora alguém que hoje faz cinco anos e isso me deixa imensamente feliz.

O que você vai ser, filha, quando crescer? Eleven? Hermione? Doroth? Bailarina? Ah, que tal ser feliz, Maria?

Filha, só pra você saber… Eu não escolhi seu nome, tá? Isso foi obra do seu avô… Mas quando me perguntam o porquê, eu respondo que o Maria é pelo Milton e o Luísa é pelo Tom. Entendedores entenderão.

Maria, espero que quando você ler essa coluna seja antes da próxima pelos seis anos. Quero que você saiba por aqui o quanto o seu pai te ama e se orgulha por te ter na vida dele há 1825 dias. Tá vendo o quanto te amo? Peguei até a calculadora pra fingir que sou de exatas e ganhar um tanto mais da sua afeição.
Quer saber, filha?
Eu só entendi o que era amor quando você veio ao mundo…
Putz, outro clichê, Maria Luísa…
Perdoa o seu pai, tá? É a idade…
-Papai, você tem só 26 anos!
Tá vendo? Prometo parar! Me ajuda, tá?
Te amo.

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