Chico Brito: O Charutão do Codó

EXTRATO DE RELATÓRIO SECRETO DE INVESTIGAÇÃO SOBRE A AÇÃO DE FECHAMENTO (E DESOBSTRUÇÃO) DE RUAS, ESTRADAS E FERROVIA NO MUNICÍPIO DE PARAUAPEBAS/PA E REDONDEZAS, TRANCADAS POR TRÊS DIAS PELO MST.

INFORMAMOS:
1 – Que chegados ao local onde o movimento colocou uma multidão impedindo o livre trânsito de veículos e pessoas constatamos que até mesmo a Polícia estava sendo impedida de passar e estava sendo destratada com grosserias, inclusive com xingamentos.

2- Que estes investigadores secretos que abaixo assinamos compreendemos que a situação requeria por essa razão alguma ação não ortodoxa, já que nem ordem da Justiça estava sendo acatada pelos manifestantes. E sem ordem não há progresso.

3- Que comunicamos de imediato os fatos acima a quem de direito.

4 – Que algum tempo depois, de nosso posto de observação avançado, vimos chegar ao local, com um cordãozão de ouro e uma melancia pendurada no pescoço o Secretário de Segurança Institucional da prefeitura que apareceu à frente de uma legião de almas.

5 – E que vinham essas almas, o seu séquito, portando chifres, (fora algumas que eram mochas e não eram chifrudas), e aparelhadas com par de asas nas costas, sendo que algumas, como pudemos observar, tinham também as patas bifurcadas.

6 – Que eram essas todas umas almas negras, almas sebosas, almas encardidas, almas cabeludas, almas apenadas e almas despenadas agregadas ao magote, envoltos todos em um halo avermelhado de iluminação que não sabemos se era de lanternas esse vermelhão.

7 – Que batendo o pé no chão nesse local o dito chefe olhou em volta, pescoço dele rodando em 360 graus, volta completa, e gritou assim: – “Quem manda e quem resolve tudo nessa prefeitura sou eu!” E então puxou do bolso um charutão do Codó, e com um despacho fez baixar o Tranca Ruas.

8 – Mas que fez isto foi fumando o charutão de trás pra frente e ao contrário, chupando dele fortes baforadas e com o dedo mindinho da mão que segurava o charuto esticado bateu três toletes de cinza no chão em frente aos manifestantes. E ato seguinte cuspiu ali uma escarrada.

9 – Que incontinenti destrancou-se tudo e essa dita multidão manifestante debandou sem qualquer desordem, e foi, cada um, buscar seu veículo já que muitos tinham deixado suas camionetes Hylux e Triton e suas motos estacionadas cinco ruas abaixo, voltando para seus comércios, suas chácaras, e suas propriedades.

10 – Que, sorrateiramente um pequeno grupo desgarrou-se do resto e foi de corpo presente agradecer ao prefeito a contribuição que este dera para sustentar a manifestação, e para estes chefetes o prefeito tirou um maço de notas de uma gaveta e deu ainda mais uma gratificação, gorda propina.

11 – Que também comentou-se por ali, que a destrancação foi tão pesada que além da rua teria destrancado também até os cofres da prefeitura, onde mais de um bilhão de reais já entraram neste ano e obra que é necessária, até hoje, nenhuma foi feita, nada. Só reuniões e fotos de reuniões postos toda hora nos mídia.

12- Que entretanto, sobre este assunto, ali mesmo houve controvérsias e não faltou quem afirmasse que os cofres da PMP não tinham se destrancado e que só seriam mesmo destrancados é no ano que vem, mas não a poder de charuto e sim para gastar tudo com a eleição.

13 – Que não foi necessária, pelo narrado acima, a preciosa atuação do valoroso e competente sargento Décio Malho da Silva para a necessária desobstrução não ortodoxa da via e a devida destrancação da rua e da barreira da VALE S/A, a companhia de mineração.

14 – Que esvaziada a cena, quando um curioso perto soltou um sonoro “Cruz credo, pé de pato, mangalô treis veiz” aconteceu na hora um grande estouro, seguido de fumacê, cheiro de pólvora e enxofre, que não sabemos explicar se era de algum foguete, se era coisa deste ou de outro mundo.

15 – Que por este razoável motivo estes intimoratos e destemidos investigadores secretos, (que por ser tudo verdade nada omitimos e abaixo assinamos) demos no pé com mais de mil no ponteiro por que não temos obrigação legal nenhuma de meter nessas coisas o nosso bedelho.

16 – Que fica entregue para a apreciação da chefia, e as devidas considerações, este relatório que tem que permanecer secreto e confidencial e não pode, em hipótese alguma, chegar ao conhecimento do povo. E que por ser confidencial entregamos a Vs. Ss., em quem confiamos.

17 – Que estes investigadores esconjuram os fatos ocorridos e aproveitam para fazer o pedido de nos enviar para outro tipo de missão diversa desta, sem risco de a gente se deparar de novo com charutões e coisas afins. Pode ser até na favela da Rocinha, que preferimos.

Assinado: Pedro Pereira Bonifácio Castanheira – Codinome Peidinho e
José Antônio Orisvandávia Aroeira – Codinome Raposão
Parauapebas, novembro de 2017.

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